Portanto, os colégios estão com falta de professores (em parte porque, como muitos colégios tratam os professores como escravos, estes fogem de lá) e resolvem o problema pagando mais para que os professores existentes trabalhem mais horas.
Pois a mim ninguém me paga a mais. Bem sei que aquilo que fiz ontem de estar a tirar dúvidas para o teste às 11h da noite ( e tenho feito nestas duas semanas de loucura com imensos alunos em isolamento, isso mais passar horas por dia -que não fazem parte do meu horário- a resolver esses problemas dos alunos com Covid-19 ou em isolamento por coabitação com infectados) não o faço normalmente.
Tenho a minha vida, não sou freira da escola e até seria anti-pedagógico, pois os alunos têm que saber estudar e tirar dúvidas no tempo regulamentar, mas estamos numa situação excepcional. Portanto, aquilo que fiz ontem e tenha feito estas duas semanas (e que me estão a prejudicar o trabalho na formação que estou a fazer para a qual paguei 60 euros...), é sem pagamento de trabalho extra. Sai-me do corpo. E isto sou eu que não tenho 5 ou 6 turmas ou 7 como outros colegas têm. À conta disso hoje, no meios de tantas versões de testes que fiz, duas delas iam com uma gralha, o que me chateia, dizer aos alunos para terem rigor no trabalho e depois ir uma fórmula sem um parêntesis...
Portanto ao contrário do que grita o rebanho, chefiado por JMT nos jornais, não é verdade que nos colégios se garanta sempre aulas (também não têm professores) e onde se garante é porque pagam aos professores esse trabalho extra. Eu já só agradecia que me pagassem os dois anos e 9 meses de serviço que António Costa disse que todos receberiam.
Entretanto temos os pais a perguntar quando começa o apoio da disciplina tal que o professor recomendou, por exemplo, e nós a termos que dizer que não há professores para dar o apoio. Os que existem têm o seu horário completo e alguns ainda têm horas a mais porque lhes foram distribuídas turmas onde não se consegue encontrar professor, para os alunos não ficarem sem as aulas regulamentares.
Porém os do rebanho querem pseudo-resolver os problemas da educação com cheques-ensino ou a fazer bullying aos professores que ainda resistem: vai lá fazer uns caderninhos com lacinhos ao gosto de um tipo qualquer que depois te avalia pela cor dos lacinhos.
Continuem assim que vai tudo bem. Que mais queres tu, no país do sol vai tudo nu...
Colégios estão a pagar mais aos professores para garantirem aulas aos seus alunos
Associação do ensino privado admite dificuldades em recrutar professores, mas garante que não tem alunos sem aulas por falta de docentes.
Clara Viana
A Federação Nacional de Professores (Fenprof) divulgou uma nota, nesta quinta-feira, onde frisa que a falta de professores nos colégios “é um problema que, em muitos, já atinge níveis superiores aos das escolas públicas”. A estrutura sindical atribui esta situação ao facto de, nos últimos três anos, “centenas de docentes do ensino privado” terem conseguido um lugar nas escolas públicas. “Os colégios e a sua associação representativa ocultam os números e procuram, muitas vezes de forma que roça a ilegalidade, disfarçar o problema”, acusa.
Queiroz e Melo admite que “em muitos sítios, os colégios têm-se confrontado com dificuldades no recrutamento de docentes”, mas adianta que a origem do problema é a mesma da do ensino público: a escassez de professores. Sobre os docentes que têm transitado para o ensino público refere que a AEEP não tem números e que o levantamento anunciado no ano passado ficou pelo caminho devido à falta de dados.
Para garantir que os alunos não fiquem sem professores, a AEEP tem, por um lado, estado “a pagar acima da tabela em algumas zonas e a determinados grupos de recrutamento [disciplinas]” e, por outro, contratando “mais horas aos professores em exercício no ensino privado”.
“Mas estas modalidades não são elásticas. Há-de chegar um momento em que já não será possível esticar mais”, adverte Queiroz e Melo, lamentando mais uma vez que o Governo tenha deixado para a próxima legislatura a revisão da portaria da habilitação própria, de modo a alargar o leque de cursos que dão acesso à docência. “Seria um primeiro para resolver o problema da falta de professores tanto no público, como no privado”, afirma.
Trinta mil sem aulas
Na nota publicada nesta quinta-feira, a Fenprof refere que, mesmo “sem ter em conta as situações de isolamento por covid-19”, cerca de 30 mil alunos estarão actualmente afectados pela falta de professores devido, entre outros factores, “aos elevados níveis de exaustão que atingem milhares de docentes” e que estão a levar muitos a recorrerem a baixas médicas.
Em cálculos feitos para o PÚBLICO no início da semana, a Fenprof tinha avaliado em cerca de 25 mil os alunos que estariam sem aulas. Mas, entretanto, foram actualizados o número de horários que estão a concurso na chamada contratação de escola: estão em falta “5802 horas” lectivas, que se distribuem “por um total de 469 horários a concurso, estimando a Fenprof que sejam afectados pela falta de professores cerca de 30 mil alunos”. Isto se se considerar “que, em média, cada quatro horas a concurso correspondem a uma turma sem professor e que estas, também em média, têm apenas 20 alunos”.
Na mesma nota, a estrutura liderada por Mário Nogueira anuncia que entregará ao parlamento saído das eleições de dia 30, “uma petição que já ultrapassou largamente as assinaturas necessárias, em que se exigem medidas que revalorizem a profissão docente e, assim, se recuperem os que a abandonaram, e se atraiam os mais jovens para a formação inicial”. E que também “ao futuro Governo será entregue um abaixo-assinado com as mesmas exigências, mas, também, propostas concretas, com as quais se pretende iniciar processos negociais de que resultem soluções”.
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