Acho piada é que lhe chame, pomposamente, 'factos'.
«Inverdade» não é bem a mesma coisa que mentir mas é um adejante. É o que queremos dizer com aquele dito popular, com a verdade me enganas - é uma maneira de dizer as coisas em que se pega numa verdade de facto (que é diferente do próprio facto), como por exemplo, a estatística do número de passagens de ano e se exibe o número como um exemplo de uma política positiva de sucesso escolar, sabendo que esse número não se deve a que os alunos passassem a conseguir atingir os objectivos das disciplinas (já reduzidos, em muitos casos, ao mínimo inaceitável) mas à política de passar todos independentemente do número de negativas mostrar que não alcançaram os objectivos mínimos (hoje em dia é comum ver alunos no 10º ano, na área de ciências, tendo tido sempre nota/nível 1 a Matemática, desde o 5º ano - quer dizer, por exemplo, entrarem no 10º ano sem saber o que é a fórmula resolvente) e sabendo que o termo 'sucesso escolar' vai ser entendido pela generalidade das pessoas, enganadoramente, como sucesso nos estudos. Portanto, a única coisa verdadeira na estatística do 'sucesso escolar' é o número final de alunos que passam, mas sendo a maneira de lá se chegar o desinteresse na capacidade deles atingirem os objectivos, esse número não é real, não corresponde a um real sucesso dos alunos e é, portanto, uma inverdade. O uso de uma verdade para esconder uma falsidade.
Palavras sinónimas de inverdade: , embuste, engano , engodo , enrolar, esconder, ocultar, omitir, tergiversar (ver aqui).
A memória de Rui Rio tem falta de educação
O líder do PSD não evolui no pensamento sobre o currículo: avaliar é fazer exames, ensinar é ter programas que só se cumprem pagando explicações, disciplina intui-se que seja expulsar alunos do sistema.
João Costa (SE da educação)
O PSD gosta de discursos catastrofistas sobre educação. A cada ciclo eleitoral repetem-se os chavões alarmistas do costume. No congresso do PSD, Rui Rio fez troça da memória, iludindo-a. Desta vez, sobre cinco temas: currículo; investimento na escola pública; ensino profissional; professores; educação de infância. Vamos a factos.
[o SE parece aqui a ministra da saúde que também se recusa a ver o óbvio - a situação é mesmo catastrófica. Depois, diz, 'vamos a factos', mas não relata factos... antes faz acusações]
Rui Rio não evolui no pensamento sobre o currículo: avaliar é fazer exames, ensinar é ter programas que só se cumprem pagando explicações, disciplina intui-se que seja expulsar alunos do sistema.
[outra mentira descarada isso da autonomia curricular]
Sobre investimento na escola pública há pouco a dizer. Depois de o PSD ter ido para além da troika e do desvio de dinheiros públicos para o setor privado em tempos de crise, Rui Rio omite que, entre 2016 e 2021, o investimento em educação aumentou 20%. Um investimento que não serviu para financiar escolas privadas onde havia oferta pública, mas para robustecer os apoios aos alunos.
Relativamente ao Ensino Profissional, o PSD poderia ter o pudor de não se pronunciar. O seu desprezo por este setor resultou em atrasos no financiamento, na introdução de barreiras para que os alunos desta via não concorressem ao ensino superior, na inexistência de rede, no incumprimento de compromissos com a Comissão Europeia para a certificação de qualidade e, com gravidade, na sua progressiva substituição por cursos vocacionais que reduziam os anos de formação, não chegando a cumprir as horas de formação estipuladas no Catálogo Nacional de Qualificações. Para o PSD, o Ensino Profissional foi desrespeitado e assumido como a via para os alunos que não tinham sucesso.
O Governo do Partido Socialista criou critérios para o ordenamento da rede, aproximando progressivamente a oferta das necessidades das empresas e dos territórios, implementou o sistema EQAVET, certificando a qualidade do Ensino Profissional de acordo com critérios europeus, criou um concurso específico para o acesso ao ensino superior, valorizando a formação em contexto de trabalho e as Provas de Aptidão Profissional. Um esforço hercúleo na dignificação de uma via tão necessária ao país e tão apoucada pelo PSD.
Em 2019, o pensamento de Rui Rio sobre professores era simples: é preciso despedi-los, porque estão a mais. Isto enquanto o Governo do Partido Socialista procedia ao recenseamento das necessidades futuras. O mesmo Governo que descongelou as carreiras sem a irresponsabilidade dos avanços e recuos do PSD; recrutou, entre 2015 e 2020 mais cerca de 5000 professores; vinculou milhares de professores; investiu em formação contínua gratuita para os docentes; deu cumprimento à lei, respeitando a norma travão; repôs a legalidade no horário dos professores do 1.º ciclo, entre outras medidas.
Uma das primeiras medidas deste Governo foi a publicação das Orientações Pedagógicas para a Educação Pré-Escolar, às quais se têm sucedido instrumentos formativos e brochuras de trabalho.
Das duas uma: ou Rio não sabe tudo isto ou não quer que se saiba. Qualquer das hipóteses revela falta de memória e desconhecimento. O combate às desigualdades na educação trava-se com rigor e ambição e não com chavões fáceis.
Como diz aquele ditado popular, 'se torturarmos suficientemente os números, eles confessam qualquer coisa'.
No comments:
Post a Comment