December 12, 2021

A sala de aula não é um consultório




Hoje é mais fácil aceder ao conhecimento. Não é normal que os programas também sejam atualizados?


O conhecimento é um contínuo entre o enciclopédico — eu abro uma página da internet e encontro a resposta — e o conceptual, que remete para coisas que eu não consigo aprender lendo e que exigem uma interação com alguém que sabe, até que o conceito seja apropriado. Uma vez que o primeiro está ao alcance de qualquer um, o centro da educação tem de deslocar-se para o conceptual. E isto não é o que é estimulado pelas aprendizagens essenciais entretanto definidas. Percebo a ideia de que uma pessoa se apropria de forma mais profunda de um conceito quando descobre por si própria. Mas, no caso da Matemática, isto não faz sentido na maioria dos casos. Como é que se quer que um aluno encontre a solução para coisas que foram descobertas pelos maiores cérebros da História? É muito mais fácil ensinar a tabuada do três e dizer que 3x2 é 6 do que estar a ensinar através de rebuçados. Há um outro problema, que é uma contaminação da sala de aula pelo consultório médico.

O que quer dizer com isso?

No consultório uma pessoa diz tudo, não há juízos, há um espaço de aceitação, não há certos nem errados. Esta mentalidade está a chegar à sala de aula. Mas este é o sítio para se dizer o que está certo e errado.

João Araújo Presidente da Sociedade Portuguesa de Matemática em entrevista ao Expresso, "Terraplanagem dos Programas é Catastrófico"

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