November 16, 2021

Não 'compro' esta opinião

 



Não faz muitos anos davam-se obras filosóficas inteiras no 10º, 11º e 12º anos. Obras da Filosofia Antiga e Medieval, que têm uma escrita e modo de pensar estranhos e complexos, obras de Kant, que é complexo e com uma linguagem difícil e os alunos compreendiam e aprendiam.

O problema com Saramago, não é ser complexo e rico, mas o ensino do Português estar tão reduzido ao mínimo que os alunos têm dificuldade com tudo que ultrapasse o nível funcional. Falo com os colegas que dão Português no básico e eles dizem-me que as coisas estão tão facilitadas que as perguntas de testes e exames são do género, 'identifica um adjectivo no texto' ou escolhas múltiplas e coisas assim.

Dantes os alunos também liam pouco em casa mas quando chegavam à escola liam muito e escreviam muito. Logo desde a primária contactava-se com os escritores e poetas portugueses. Crescia-se com a linguagem dos poetas e dos escritores, com o seu ritmo, a sua riqueza de vocabulário e complexidade frásica. 

Agora é quase tudo 'baby food' até muito tarde. É sabido que os povos têm uma resistência e aceitação da comida muito diferenciada porque ainda no meio intra-uterino, experimentam, através da mãe, os sabores da comida da sua cultura. Assim, uns nascem já preparados para uma comida rica e outros não. Na leitura é igual. Se os alunos só estão habituados a 'baby food', é claro que depois têm dificuldade com comida muito rica e condimentada. Porém, o problema não está na comida, mas no hábito de comida insonsa desde pequenos e até muito tarde.

Vivemos numa cultura de imagens e redução do ensino a aprendizagens mínimas essenciais infantilizantes. Kits de sobrevivência.  

“A riqueza e a complexidade de Saramago acabam por ser uma dificuldade” para os alunos

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