October 10, 2021

Livros que são documentos históricos

 


Comecei a ler o diário do Brexit de Michel Barnier que chegou na sexta. Vou na página 187 -das mais de 500 do livro-, a do primeiro encontro com Borissov.

O livro lê-se muito bem, está escrito como que ao correr da pena. Quem quiser compreender esta época do Brexit tem que o ler, dado que é um testemunho directo do processo e, ainda mais, do negociador-chefe da UE.

Depois, uma das características mais interessantes do livro é abrir-nos as portas dos gabinetes de Bruxelas e deixar-nos ver a mecânica e a dinâmica do trabalho na UE e com os países membros, coisa que nós, aqui no rectângulo, nos apercebemos pouco porque as notícias sobre a UE resumem-se aos encontros para pedir dinheiro e pouco mais. Na verdade, para sabermos mais temos que ser nós a procurar activamente as notícias em meios de comunicação social de outros países.

Michel Barnier é muito objectivo, factual e descritivo e, se bem que percebamos que o ponto de vista dele é parcial e também que de vez em quando não se coíba de dizer o que pensa da gestão que o Reino Unido e a sua equipa fizeram do Brexit, nunca é deselegante nas críticas aos ingleses.

À medida que vou lendo, um dia e um mês após outro, vou lembrando-me das fases da negociação: a primeira vez que ouvimos falar das contas da saída do RU: 50 mil milhões; do discurso da Teresa May sobre a Inglaterra ser global; de Boris Johnson, então ministros dos NE, ameaçar os italianos que boicotava a compra de vinho Prosecco, etc. 
Nem meia dúzia de anos se passaram desde que começaram as negociações. De facto, "há décadas em que nada acontece, mas há semanas em que décadas acontecem" e isso vê-se aqui neste livro: décadas a acontecerem em certas semanas.




No comments:

Post a Comment