Relativamente ao facto deste senhor dizer que a cultura de egoísmo individualista destes adolescentes que vão embebedar-se para Santos (em outras cidades serão outras zonas) e perturbar a vida de toda a gente da zona é ensinada nas escolas:
1º esclarecimento: é aos treze anos e não aos quinze que eles começam nessa vida nocturna, sobretudo as raparigas que crescem bastante nessa idade. Se forem ver andam lá muitas com essas idades. Nós sabemos porque no dia seguinte vão para a escola gabar-se de terem-se embebedado;
2º esclarecimento: não é no meio escolar que eles são educados para o alheamento dos outros e para o egoísmo individualista. Pelo contrário, nós professores, somos os primeiros a sofrer o efeito desses hábitos porque os alunos vêem para as aulas dormir, de ressaca, mal dispostos, sem o estudo e o trabalho feitos; mas é verdade que um espírito de desresponsabilização, de exaltação da autonomia individualista e do prazer são induzidos pela tutela;
3º esclarecimento: os pais desses adolescentes, na esmagadora maioria das vezes, sabem e deixam que os filhos andem por aí a embebedar-se desde os 13 e 14 anos e não querem saber. Alguns ainda são capazes de ir à escola refilar com as notas dos filhos que passam as noites nos copos e os dias de ressaca.
Finalmente: porque é que o governo legislou que os menores podem beber álcool sem limites desde que seja cerveja e vinho e não vodka ou rum ou gin? O álcool do vinho é melhor que o da vodka? De que serve a fiscalização da polícia se legalmente eles podem embebedar-se todos os dias, desde que seja com vinho e cerveja?
Santos e pecadores: Reflexão sobre o visionamento de uma reportagem televisiva
António Cluny
Finalmente: porque é que o governo legislou que os menores podem beber álcool sem limites desde que seja cerveja e vinho e não vodka ou rum ou gin? O álcool do vinho é melhor que o da vodka? De que serve a fiscalização da polícia se legalmente eles podem embebedar-se todos os dias, desde que seja com vinho e cerveja?
Santos e pecadores: Reflexão sobre o visionamento de uma reportagem televisiva
António Cluny
Pergunto-me, ainda, como agiriam os pais de tais jovens se fossem eles os vizinhos dos estabelecimentos nos quais, até às duas da manhã, eles se reúnem e onde, depois de aqueles encerrados, permanecem no seu exterior até bem mais tarde, fazendo, como é natural, a algazarra própria da idade e do seu estado mais ou menos alcoolizado.
Quando, há dias, a televisão nos mostrou o comportamento de centenas, ou milhares, de jovens nas noites do bairro de Santos, em Lisboa, vendo alguns deles, para gáudio de outros, abanar violenta e despropositadamente um táxi, causou-nos a todos – suponho - um amargo de boca.
Mais angustiados ficámos quando, visionando as suas entrevistas de rua, percebemos que os rapazes e raparigas que ali confluíam àquela hora da noite não teriam, no máximo, mais de quinze, dezasseis anos.
(...)
As entrevistas a que assistimos e ouvimos demonstram, por parte de alguns deles, uma total falta de consciência cívica e um alheamento da responsabilidade social face ao outro, seja ele o morador da zona, os trabalhadores dos bares e dos transportes, os elementos das forças policiais.
Toda a mensagem, entre o ingénuo e o provocador, se centrava na afirmação, incondicional e irreprimível, da sua liberdade individual, mesmo que à custa dos direitos dos outros.
Eles queriam apenas divertir-se e tinham todo o direito a isso: os outros, que sofriam as consequências, não existiam de todo, porém, no radar das suas preocupações.
Esse alheamento do outro e dos seus direitos, e a falta de sentido cívico que demonstra, não terá, por certo, nascido naquele momento e nem sequer pode ser visto como puro exibicionismo ante as câmaras.
Ele só pode radicar, muito provavelmente, numa cultura excessivamente individualista e pouco solidária que é incutida - ou consentida - nos meios sociais, escolares e mediáticos que tais jovens frequentam e em que se formam como pessoas e cidadãos.
Acresce que o nível social de alguns dos entrevistados, cujos depoimentos eram mais ostensivamente provocadores, parecia elevado e, à partida, não podiam ser justificados - como sempre se procura insinuar nestas situações - por uma educação marginal e desprotegida.
(...) tendo a idade que têm, nem sequer se entende como poderiam estar ali àquela hora sem que ninguém – nas respetivas famílias – se preocupasse com isso.
Como é possível que as famílias de tais jovens estivessem tão alheadas do sítio e dos comportamentos que, àquela hora da noite, eles frequentavam e desenvolviam?
Ou, pior, será que não estariam?
Que sociedade estamos, afinal, a criar para eles?
Não será esta questão bem mais importante para o futuro do nosso país do que algumas das recorrentes e artificiais quezílias políticas que inundam, inconsequentes, o espaço dos nossos meios de comunicação social e que tanto preocupam os seus pueris comentadores?
Quando, há dias, a televisão nos mostrou o comportamento de centenas, ou milhares, de jovens nas noites do bairro de Santos, em Lisboa, vendo alguns deles, para gáudio de outros, abanar violenta e despropositadamente um táxi, causou-nos a todos – suponho - um amargo de boca.
Mais angustiados ficámos quando, visionando as suas entrevistas de rua, percebemos que os rapazes e raparigas que ali confluíam àquela hora da noite não teriam, no máximo, mais de quinze, dezasseis anos.
(...)
Na verdade, parece pouco admissível ignorar a responsabilidade destes – dos pais - ante um comportamento social incompatível com a hora e a idade dos seus jovens filhos e protagonistas de tais ajuntamentos e dos inevitáveis desacatos que provocam.
Pergunto-me, ainda, como agiriam os pais de tais jovens se fossem eles os vizinhos dos estabelecimentos nos quais, até às duas da manhã, eles se reúnem e onde, depois de aqueles encerrados, permanecem no seu exterior até bem mais tarde, fazendo, como é natural, a algazarra própria da idade e do seu estado mais ou menos alcoolizado.
Na verdade, parece pouco admissível ignorar a responsabilidade destes – dos pais - ante um comportamento social incompatível com a hora e a idade dos seus jovens filhos e protagonistas de tais ajuntamentos e dos inevitáveis desacatos que provocam.
Pergunto-me, ainda, como agiriam os pais de tais jovens se fossem eles os vizinhos dos estabelecimentos nos quais, até às duas da manhã, eles se reúnem e onde, depois de aqueles encerrados, permanecem no seu exterior até bem mais tarde, fazendo, como é natural, a algazarra própria da idade e do seu estado mais ou menos alcoolizado.
As entrevistas a que assistimos e ouvimos demonstram, por parte de alguns deles, uma total falta de consciência cívica e um alheamento da responsabilidade social face ao outro, seja ele o morador da zona, os trabalhadores dos bares e dos transportes, os elementos das forças policiais.
Toda a mensagem, entre o ingénuo e o provocador, se centrava na afirmação, incondicional e irreprimível, da sua liberdade individual, mesmo que à custa dos direitos dos outros.
Eles queriam apenas divertir-se e tinham todo o direito a isso: os outros, que sofriam as consequências, não existiam de todo, porém, no radar das suas preocupações.
Esse alheamento do outro e dos seus direitos, e a falta de sentido cívico que demonstra, não terá, por certo, nascido naquele momento e nem sequer pode ser visto como puro exibicionismo ante as câmaras.
Ele só pode radicar, muito provavelmente, numa cultura excessivamente individualista e pouco solidária que é incutida - ou consentida - nos meios sociais, escolares e mediáticos que tais jovens frequentam e em que se formam como pessoas e cidadãos.
Acresce que o nível social de alguns dos entrevistados, cujos depoimentos eram mais ostensivamente provocadores, parecia elevado e, à partida, não podiam ser justificados - como sempre se procura insinuar nestas situações - por uma educação marginal e desprotegida.
(...) tendo a idade que têm, nem sequer se entende como poderiam estar ali àquela hora sem que ninguém – nas respetivas famílias – se preocupasse com isso.
Como é possível que as famílias de tais jovens estivessem tão alheadas do sítio e dos comportamentos que, àquela hora da noite, eles frequentavam e desenvolviam?
Ou, pior, será que não estariam?
Que sociedade estamos, afinal, a criar para eles?
Não será esta questão bem mais importante para o futuro do nosso país do que algumas das recorrentes e artificiais quezílias políticas que inundam, inconsequentes, o espaço dos nossos meios de comunicação social e que tanto preocupam os seus pueris comentadores?
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