Coma ou vírgula, a mais breve pausa que nos permitem os sinais de pontuação dentro de uma frase. Do latim, virgula, «pequena vara», de onde deriva também, virgultum, atirar.
A vida que corre -linfa- dentro de um raminho arrancado de um abeto, de cor branca virginal. Vergola, a franja de remate da manga de um vestido de mulher, o fio de seda ou ouro cosido numa casa de botão como ornamento.
Giacomo Leopardi, em carta a Pietro Giordani em 1820:
No que me diz respeito, sabendo que a clareza é o dever primeiro do escritor, nunca elogiei a avazera da pontuação e vejo que muitas vezes, uma única coma, bem posta, ilumina toda uma frase
Parece que o primeiro a usar este sinal de pontuação foi Quintiliano, o orador romano - que foi também o primeiro a receber um salário por conta do fiscus Caesaris que corresponde a todo aquele que vive da escrita, obra que certamente não é um hobby de preguiçosos.
No seu Institutio Oratoria propôs substituir pela vírgula o sinal diacrítico introduzido pelos filólogos de Alexandria, o obelós, a linha horizontal. Este vocábulo, por sua vez, deriva do grego antigo όβολός (/obolós/) que, literalmente, significava, «espigão», «espeto». Um dracma valia seis óbolos, essa moeda que se punha sobre os olhos dos defuntos para evitar que suas almas penassem desvalidas sem poderem entrar no Hades.
Também na Idade Média, o óbolo valia «meio denário», do mesmo modo que hoje usamos esta palavra para designar uma pequena oferta ou doação espontânea. Mais surpreendente ainda a mesma raíz grega dá origem a «obelisco».
Na matemática, a vírgula serve para separar a parte inteira da parte decimal de uma expressão numérica (os países anglo-saxões preferem o ponto em vez da coma). Na música utilizava-se, nos séculos XVII e XVIII para expressar certas fórmulas de ornamentação melódica. Na bacteriologia, «vírgula» é o nome dado ao bacilo da cólera, devido à sua forma.
Para usar as palavras de Rebeca West, uma das maiores escritoras do século XX, quando se fala de questões de comas, o que está em jogo é a subtil vantagem da elegância.
do livro, Etimologías Para Sobreviver Al Caos de Andrea Marcolongo, ed. taurus (com adaptações)
No comments:
Post a Comment