Uma estranha ligação entre o ADN do urso pardo e a linguagem humana
Um estudo genético dos ursos pardos da Columbia Britânica encontra uma estranha ligação às línguas humanas locais.
— Robby Berman
Michelle Valberg / Raincoast Conservation Foundation
Começou com um estudo genético dos ursos pardos que vivem na costa da Colúmbia Britânica, Canadá. Os ursos tinham começado a migrar para ilhas ao longo da costa e os especialistas estavam interessados em descobrir porquê. Trabalhando com cientistas das cinco Primeiras Nações da área, recolheram amostras de ADN de ursos para melhor compreenderem como estavam relacionados entre si.
Os grizzlies pertencem a três grupos genéticos distintos, ao que parece, embora não houvesse barreiras físicas aparentes para os impedir de se misturarem entre si. O estranho é que cada grupo de ursos pardos parecia estar de alguma forma ligado a uma das três famílias de língua humana aborígenes da região. Por outras palavras, o território de cada grupo de pardos correspondia precisamente à área em que uma dessas línguas era falada. Esta descoberta bizarra foi em Ecologia e Sociedade.
A recolha das amostras foi possível graças a um "grupo de trabalho dos ursos", uma colaboração entre as Primeiras Nações que começou em 2011 - também eles estavam curiosos sobre os laços familiares dos ursos. A autora principal do estudo, Lauren Henson, trabalhou em conjunto com representantes dos Gitga'at, Haíɫzaqv (Heiltsuk), Wuikinuxv, Nuxalk, e Kitasoo/Xai'xais Nations. Outros co-autores incluem investigadores da Universidade de Vitória.
Tendo já recolhido pêlos pardos para análise de ADN durante 11 anos, foram analisadas 147 amostras no total, retiradas de uma área aproximadamente do tamanho de Vermont (23.500 km2).
Para obter amostras, os investigadores juntaram, em pilhas, folhas e paus revestidos com óleo de peixe-cão e chorume de peixe. Henson diz à Science que "cheira muito mal para nós, mas é intrigante para os ursos". Cada pilha foi rodeada por arame farpado em que tufos de pêlo pardo ficaram presos quando os ursos vieram investigar o cheiro. Os investigadores distribuíram iscos por toda a área de estudo, por vezes em locais tão remotos que só podiam ser alcançados por helicóptero.
The ranges of the three grizzly groups. Raincoast Conservation Foundation
Os cientistas ficaram intrigados com a separação mantida entre os três grupos de ADN, apesar de não existirem barreiras físicas óbvias entre eles. Não é tanto que os ursos não possam viajar para novos locais, mas sim que não tenham necessidade de o fazer.
Quando se aperceberam de quão próximo os territórios dos grupos estavam das áreas onde as famílias de língua Tsimshian, Northern Wakashan, e Salishan Nuxalk são faladas, esta hipótese fez ainda mais sentido. Afinal, os recursos que sustentam as populações humanas são os mesmos que os necessários para grandes mamíferos como os grizzlies. Esses recursos incluem terra, água doce e alimentos, especialmente salmão, nesta área.
O comunicado de imprensa da Raincoast Conservation Foundation resume tudo isto: "A explicação que a parceria de investigação favorece é que a paisagem moldou ursos e seres humanos de forma semelhante".
Os investigadores não descobriram, contudo, se existem diferenças entre os recursos disponíveis nas três áreas: "No entanto, sabemos que os ursos e as pessoas têm partilhado recursos e espaço nesta paisagem durante milénios, enfatizando o potencial para uma resposta paralela à variação destes recursos que reflecte esta relação a longo prazo".
A estreita relação entre as pessoas e estes grupos pardos apoia a necessidade de conhecimento local na gestão do território, diz William Housty, membro da Fundação e co-autor do documento. "Os nossos investimentos em investigação nos nossos territórios permitem-nos tomar decisões de gestão informadas que se baseiam não só no nosso próprio conhecimento, mas também em novas provas científicas como esta".
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