Deixou-se levar pela sua convicção de que os seres
humanos não nascem de uma vez por todas no dia
em que as suas mães os dão à luz, mas que a vida os
obriga outra vez e muitas vezes a parir-se a si próprios
— Gabriel Garcia Marquez
Esta é a coisa que verdadeiramente se necessita
no mundo: ler levado a sério.
— Rebecca West
Sem o significado religioso (paixão, sofrimento de Cristo) e o filosófico (o pathos não é a emoção intensa que leva à tragédia mas a irracionalidade que se opõe ao rigor do logos), resta à paixão o seu sentido original, uma perturbação do ânimo, do céu, da natureza, mas sempre algo que passa. Com o tempo. Dito com outras palavras, «com paciência».
Até ao século XIV a palavra «paciência» liga-se à dor que somos obrigados a «padecer» como «pacientes» quando estamos aflitos por uma doença. Na Toscana a «árvore da paciência» é assim chamada porque dos seus frutos se tiram as contas do rosário que deve rezar-se devagar.
Não existe «paixão» sem paciência. Tanto se espera alguém -um amor, um amigo- como uma coisa -um autocarro, o dia de ir abrir os presentes de Natal. A «paciência» está sempre ligada ao «desejo». O poder deste duplo étimo está em recordar que toda a «paixão» requer tempo. Senão, pergunte-se a Ícaro o que aconteceu quando se confundiu com estes dois étimos e se atirou cedo demais para a terra, por não ter sabido ser «paciente» e travar a sua «paixão» pelo sol.
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