June 23, 2021

Notícias sobre educação que me deixam com a pulga atrás da orelha

 


Digo já que desconfio deste 'estudo', encomendado, não se sabe por quem... ... mas uma vez que o estudo diz que conclui que o problema são os professores, uma vez que o sicofanta de serviço vem logo dizer, no Editorial que é preciso escolher os professores e uma vez que sabemos que o SE tem essa obsessão em acabar com o concurso de professores como existe e substitui-lo por escolha de professores pelos directores (o pseudo-argumento é escolher os melhores. Vê-se como na administração pública e governo a escolha pelos que dirigem acerta nos 'melhores', que por coincidência são os amigos, os filhos, os primos, os filhos dos amigos, os maridos, as mulheres, etc...), para que se escolham professores submissos, assim que li o título fiquei logo alerta...

Melhores professores fariam desaparecer até dois terços das notas negativas
Se todos os docentes tivessem o impacto dos melhores colegas, os resultados dos alunos podiam subir. Estudo da Edulog mediu pela primeira vez o efeito que um professor tem no desempenho dos estudantes das escolas públicas.

Melhores em que sentido? Vamos ver como tiram essa conclusão e em que se baseiam:

No fim está o artigo na totalidade, onde se pode ver que uma boa parte do artigo repete outra parte -como os trabalhos dos alunos que querem fazer parecer que disseram muita coisa...


No 1º parágrafo o que é dito é: se os piores professores fossem iguais aos melhores de todos, os alunos tinham melhor desempenho. Para concluir isto não são precisos estudos e isto é válido para qualquer profissão: se os piores médicos fossem iguais aos melhores, os doentes eram melhor tratados; se os piores políticos fossem iguais aos melhores, o povo era mais próspero; se os piores jornalistas fossem iguais aos melhores, a classe política era mais responsabilizada, etc.





Segundo parágrafo: repete o 1º. Diz que se os professores que no VAP (valor acrescentado do professor - do qual nunca explicam bem os critérios) estão na parte pior do percentil (portanto, os piores de todos) fossem iguais aos que estão na parte melhor (portanto, os melhores de todos), os alunos tinham melhor desempenho. Dizem duas vezes a mesma coisa para...?





O que diz o seguinte: se os professores fossem todos excelentes (estar no topo do percentil do tal VAP) os alunos tinham melhores notas: não se percebe aqui se são as notas internas -qualquer professor pode dar 19s e 20s e isso faz dele bom professor- ou se são notas de exames - as notas de exame, como sabemos têm uma parte grande de manipulação da estrutura e conteúdo do exame, por parte do IAVE. 
Seja como for, repete mais uma vez que se os os professores fossem todos como os melhores  de todos os alunos tinham melhor desempenho. Também repito: isto é óbvio e válido para qualquer profissão.



Aqui a seguir ficamos a saber como calculam o tal valor acrescentado do professor. É impossível não reparar na linguagem de mercantilização do professor.

Vejamos: calculam a VAP vendo a nota que um aluno tem no exame com um determinado professor e a que tem em outro exame com outro professor... isto não é nada claro: estão a falar, por exemplo, de um aluno ter na matemática do 9º ano uma nota e depois com outro professor, no 12º ano, outra? É que entre o 9º e o 12º ano, não há exames da disciplina. Portanto, estão a comparar desempenhos do 9º ano com desempenhos do 12º ano? Não são coisas comparáveis... Ou estão a falar de alunos repetentes que num ano fizeram exame e chumbaram e no ano a seguir fizeram outra vez exame e passaram, mas com outro professor? Não se percebe.

E como garantem -como afirmam- que todos os factores que influenciam as aprendizagens foram isolados? Também não dizem... é que são muitos, e não só aqueles que aqui citam. Só um exemplo, basta um aluno, no 9º ano ou no 12º estar numa turma de péssimo comportamento, disciplina e rendimento e no ano a seguir estar integrado numa boa turma que, independentemente de quem seja o professor (a não ser num caso extremo de mau professor) sobe logo o desempenho. Não explicam nada e passam logo a dizer: 'os resultados concluem que os professores são tal e tal'. Do meu ponto de vista, pelo que aqui dizem, não se conclui nem isto nem aquilo, nem nada. Isto parece a história da menina que no fim do capítulo caiu ao poço, o que é um enorme problema e irmos ver o capítulo a seguir para perceber como saiu de lá e lemos, 'quando a menina saiu do poço...'




Aqui voltam a repetir -é a 3ªa vez... repetem muito como se faz às crianças para ser a ideia que fica na cabeça?- que se os piores professores fossem iguais aos melhores os alunos tinham melhor desempenho. Pois, isso é de La Palisse.





Aqui está o artigo inteiro.




Entretanto o que se diz aqui nesta caixa mais abaixo? Diz-se que manter o mesmo professor ao longo de um ciclo não tem impacto no desempenho do aluno. Porém quando lemos a notícia, o que lá está é o seguinte: se um professor for muito mau e estiver na base do tal percentil VAP, é melhor substitui-lo por um que esteja posicionado muito acima nesse percentil... a sério?? E daqui concluem que a continuidade pedagógica não vale nada. Isto é a brincar, com certeza. Portanto, a continuidade não tem impacto se o professor for mau. Então e se é bom? Pode-se trocar o bom por um mau que também não tem impacto? 
É claro que nunca concluem que se um professor estiver no topo do percentil, não tem importância mudar de professor para um que esteja na base... como é evidente. Senão, tiravam-se os bons e punham-se os maus e era tudo igual. 

Não é. Se os professores são péssimos, mudar de professor para um melhor, ou seja, quebrar a continuidade pedagógica para dar professores muito bons, é sempre bom. É evidente, mas não anula o benefício da continuidade pedagógica. Se os professores são óptimos é bom manter. Voltam à repetição: se os maus professores fossem iguais aos excelentes ou se os pudéssemos trocar por excelentes, os alunos tinham melhor desempenho, logo se num ciclo substituirmos um mau professor por um bom os alunos melhoram. A sério?? É preciso um estudo para isto?

A questão é que a maioria dos professores nem são excelentes nem péssimos mas algo no meio, entre o razoável e o bom e este pseudo-estudo que não apresenta nenhum critério objectivo e fidedigno (se os tem que os apresente) quer fazer crer que é possível ter uma classe profissional de mais de 100 mil professores todos excelentes.

Isto parece-me um estudo encomendado para acabar com o concurso de professores e instituir o primismo nas escolas e, ainda, acabar com a continuidade pedagógica para tirar o ultimo instrumento que os professores têm para trabalhar com as suas turmas sem interferência.
Talvez não seja do conhecimento comum mas há, em todas as escolas, professores que só trabalham com as boas turmas (aquelas onde se juntam os alunos que vêm com notas boas do ciclo anterior) e usam a sua posição primista para nunca trabalhar com as outras de modo a garantir ter melhor desempenho e menos chatices. Acontece que alguns, nem assim têm bom desempenho e tentam tirar as turmas dos colegas depois destes terem o trabalho de pôr os alunos a progredir. 

Até agora não podiam por causa da continuidade pedagógica, mas se isto vai para a frente, podem. 
Porque, da mesma maneira que os directores escolherem os professores que gostam não vai levar à escolha dos melhores, mas sim à dos mais submissos e idênticos (a vida pedagógica nas escolas, à conta de tanto 'mesmismo' está às portas da morte), poder-se ir buscar turmas de continuidade dos colegas não vai levar a que nas turmas os professores sejam substituídos por outros melhores. Isto não é a futebol onde se compram professores no princípio da época e se deitam fora os anteriores. A não ser que queiram proletarizar ainda mais a educação, acabando com os vínculos todos e pondo todos os professores a contrato... isso há-de atrair muita excelência...

O fim da continuidade pedagógica vai levar a que um professor, por exemplo, trabalhe com a turma no 7º e 8º anos e deixe os alunos bem preparados e quando chegam ao 9º, o amigo privilegiado do director tira-lhe a turma e leva os alunos a exame onde tiram notas boas e ele é que passa por bom professor e não o outro que os pôs na rota certa. Quem diz no básico, diz no secundário: um professor trabalha a turma no 10º (ou também no 11º no caso das disciplinas tri-anuais) e põe-os a progredir e faz a depuração- o 10º ano é muito problemático- e vem outro e fica com eles no ano de exame e leva-os a exame e fica com os louros do trabalho do outro que teve o trabalho difícil de os pôr na rota certa.
O contrário também existe. Um professor pega na turma no 7º e 8º ano (ou no 10º e 11º), faz um mau trabalho porque é mau professor e tem sempre maus resultados (às vezes dá notas muito altas para apaziguar alunos e pais) e depois no ano de exame passa a turma a outro professor porque sabe que os alunos estão mal preparados e não quer ficar associado às notas de exame.

A continuidade pedagógica só deve ser violada se manter o professor é pior que mudar, como é o caso de o professor não ter mão na turma, os alunos regrediram, ou dar-se mal muito com a turma por qualquer razão. Em todos estes casos, os professores sabem e são os primeiros a deixar a turma para outro. Caso contrário, a relação dos alunos e do professor e o trabalho de colaboração, que é tão difícil de conseguir, não deve ser mexida.

Vi isto -os roubos de turmas- em todas as escolas em que tive e, se há pessoas, como eu, que não se deixam intimidar pelos 'primos' que têm estas manhas de fazer parecer que fazem muito à conta dos outros, outros colegas -a maioria- deixa-se intimidar e cede. A questão é que no meu caso não me tiravam as turmas mesmo com as cenas de gritos porque existe a continuidade pedagógica porque se esta não existisse tiravam mesmo.

Em suma: dão grande destaque a um estudo que não evidência ter rigor e objectividade, tiram umas conclusões de La Palisse com pseudo-argumentos e outras que mostram, ou não conhecer a realidade das escolas ou conhecer e ter algum intuito oculto que me escapa. 
Agora, este artigo não tem grande conteúdo. Basicamente repete a ideia de que, sendo os professores excelentes, os alunos teriam melhor desempenho. 





2 comments:

  1. Tudo isto é ótimo para atrair gente para o ensino...qualquer dia só temos mesmo quem não conseguir arranjar trabalho em mais sítio nenhum!

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  2. Isto é uma idiotice. Logo, cheira-me a SE...

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