June 01, 2021

Filmes - O Mauritânio

 


Fui ver este filme. Um filme perturbador sobre um dos quase 800 homens presos em Guantanamo sem acusação. por décadas. Mohamedou Ould Salahi foi raptado, mantido preso pela CIA no Médio Oriente em condições terríveis onde foi torturado, depois levado para Guantanamo, essa prisão que fica fora do território dos EUA para que o exército possa violar todas as leis e mais algumas sem ser incomodado, foi interrogado durante três anos, 18 horas por dia, depois torturado de modos terríveis, violentado, ameaçado de que, se não confessasse raptavam a mãe e traziam-na para ali para ser violada... enfim. 

O filme conta a história dele e de uma advogada de Direitos Humanos que se interessa pelo caso dele e consegue levá-lo a tribunal, pô-lo a testemunhar e ganhar o caso da sua defesa. Os EUA mantiveram-no preso mais 7 anos antes de o libertarem.

Três coisas impressionam no filme. A 1ª é o modo como os governantes (Bush e Rumsfeld e outros) e o exército são organizações vingativas, irracionais (argumentam que as pessoas são culpadas porque morreram muitas pessoas no atentado do 11 de Setembro) arranjam desculpas para poderem perseguir e torturar pessoas e, totalmente imorais. A quantidade de pessoas que se oferece para torturar outras pessoas e fazer disso carreira...

A 2ª é o próprio Ould Salahi. O indivíduo não guarda rancor e perdoou os carrascos, mesmo ainda enquanto preso. Não tem ódio aos EUA, até gosta da cultura americana em geral. Uma pessoa com um espírito invulgar, não apenas na resistência física e mental (como não enlouqueceu com a tortura...?) mas com uma capacidade de sobrepor o amor e a razão ao ódio e ao rancor. No fim do filme, durante os créditos ele aparece a cantar uma música do Bob Dylan com um ar pacífico e sorridente.

A 3ª é a advogada. Uma pessoa com uma crença inabalável na lei e no Estado de Direito, uma enorme confiança em si mesma e na sua capacidade de defender os direitos dos que representa. Numa conversa inicial com o advogado de acusação, um indivíduo que foram buscar ao exército (e que mais tarde se recusa a acusar o prisioneiro depois de ver os ficheiros dos interrogatórios e da tortura), quando ele pergunta como é que ela pode defender um terrorista que fez parte do ataque do 11 de Setembro, ela responde-lhe, '...e se vocês estão errados? Construíram uma prisão fora do país e abandonaram todos os vossos princípios e as leis... e se estão errados? Na verdade não estou a defendê-lo só a ele. Estou a defendê-lo a si, a mim e a todos. Estou a defender a lei.'

Muito bom, o filme.


No comments:

Post a Comment