No seu tratado De agri cultura, Catão definiu a poesia como arbor felix, árvore feliz, para diferenciá-la de qualquer outra actividade infelix, aquela que não produz frutos ou os dá silvestres. A palavra poesia vem do latim poesis, que deriva do grego poieses (ποίησις), proveniente do verbo poiein ποιείν, que significa 'fazer', 'produzir', 'fabricar'.
Aristóteles escreve um tratado sobre a poesia onde define poiesis como o impulso do espírito humano para criar algo a partir de imaginação e dos sentimentos. No Banquete, Platão põe Diótima a classificar o trabalho do demiurgo que 'fabricou' a fýsis, φύσης, a natureza, como uma poiesis.
A poesia, implica uma fabricação, uma composição de palavras, versos. A palavra poesia, idêntica em todas as línguas, tomou, também em todas as línguas, um caminho desviado do original, pois já não é associada a um fazer, uma fabricação mas a uma coisa obscura, destinada a poucos, entre eles os poetas, que esperam que uma musa lhes dite um cancioneiro. No entanto, não há nada de mais natural que poetizar. Quem não se sente capaz de reescrever o Orlando Enamorado quando está apaixonado? Nem competição nem agonia, só autenticidade.
O contrário da poesia não é a prosa mas a ataraxia. Não sentir nada, ficar emocionalmente imóvel ante um entardecer, ante uma melodia, ante um verso de Florbela Espanca. O fazer e desfazer das palavras é um novelo de emoções e só depois vem o soneto, o hexâmetro, o terceto, quando já encontrámos as palavras.
Na época medieval a poesia significa, canção. O que há no mundo de mais humano que cantar a alegria e a dor?
A poesia é uma produção em verso que canta a alegria e a dor.
do livro, Etimologías Para Sobreviver Al Caos de Andrea Marcolongo, ed. taurus (com adaptações)
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I LIMONI
(...)
Vedi, in questi silenzi in cui le cose
s'abbandonano e sembrano vicine
a tradire il loro ultimo segreto,
talora ci si aspetta
di scoprire uno sbaglio di Natura,
il punto morto del mondo, l'anello che non tiene,
il filo da disbrogliare che finalmente ci metta
nel mezzo di una verità.
Lo sguardo fruga d'intorno,
la mente indaga accorda disunisce
nel profumo che dilaga
quando il giorno più languisce.
Sono i silenzi in cui si vede
in ogni ombra umana che si allontana
qualche disturbata Divinità.
Ma l'illusione manca e ci riporta il tempo
nelle città rumorose dove l'azzurro si mostra
soltanto a pezzi, in alto, tra le cimase.
La pioggia stanca la terra, di poi; s'affolta
il tedio dell'inverno sulle case,
la luce si fa avara - amara l'anima.
Quando un giorno da un malchiuso portone
tra gli alberi di una corte
ci si mostrano i gialli dei limoni;
e il gelo dei cuore si sfa,
e in petto ci scrosciano
le loro canzoni
le trombe d'oro della solarità.
***
Os Limões
(...)
Vês, é nesses silêncios em que as coisas
se abandonam e como que estão prestes
a trair o seu último segredo,
que por vezes se espera
descobrir um engano da Natureza,
o ponto morto do mundo, o elo que não resiste,
a mecha a deslindar que enfim nos ponha
no âmago de uma verdade.
O olhar revista em torno,
a mente indaga reúne separa
no perfume que alastra
quando mais langue o dia.
São os silêncios em que se avista
em toda sombra humana que se afasta
alguma importunada Divindade.
Mas a ilusão falha e o tempo nos reporta
às ruidosas cidades onde o azul se mostra
só aos pedaços, no alto, entre as cimalhas.
A chuva cansa a terra, depois; cerra-se
o tédio do inverno sobre as casas,
a luz se torna avara — a alma amarga.
Quando um dia um portão entreaberto
em meio às árvores de um pátio
nos mostra os amarelos dos limões;
e o gelo do coração se desfaz,
e brotam em nosso peito
as canções que ressoam
dos seus clarins de ouro solar.
—Eugenio Montale, em "Ossos de Sépia 1920-1927". [tradução, prefácio e notas de Renato Xavier]. Coleção Prêmio Nobel. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.
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