May 19, 2021

Campos de trigo

 


Van Gogh pintou muitos campos de trigo em várias estações do ano, da vida e do trabalho humano. Pintou-os dourados, como aqui, verdes, solarengos, sombrios, solitários, encorajadores, japonesados, capinados, ceifados, ondulados, com corvos e ciprestes, prenúncios de morte. Pintava os campos de trigo não só como coisas materiais, realizadas por semeadores concretos, mas também como coisas espirituais, realizadas por semeadores simbólicos, semeadores de amor e de vida cujas colheitas só mais tarde se desfrutam, depois de amadurecidas. Pintava-os como expressão da sua profunda comunhão com a natureza que ele comparava à dos antigos que tinham uma vida mais completa nessa união espiritual com o mundo natural. Pintava-os como olhares profundos e extensos do que está vivo e em movimento, apesar de parado. Pintou-os aqui com cores douradas, postas em evidência pelos salpicos de papoilas e o verde que polvilha a seara. Tudo aqui está vivo e em movimento sob um céu transitório.




Vincent van Gogh, "Limite de campo de trigo com papoilas" 1887; Denver Art Museum.

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