Estou muito de acordo com o texto desta carta aberta e também a mim me choca que por estes dias ainda se vejam as árvores como objectos de decoração das cidades e, por isso, não tenham escrúpulos em mandar abatê-las ou podá-las em demasia quando querem mudar de decoração como fazem algumas pessoas em suas casas que em cada estação mudam as cores da decoração. Era bom que a cidade incluísse as árvores em todas as possibilidades de intervenção.
Dito isto, reparei que a autora da carta diz sempre, referindo-se aos que foram eleitos, 'as eleitas e os eleitos', o que me pareceu ridículo e me leva ao artigo mais abaixo onde se fala da alteração da língua de modo a torná-la mais inclusiva.
Quem é que não é a favor da inclusão? Ninguém. A questão é sabermos definir inclusão e compreender os limites da inclusão.
Porque neste artigo diz-se que, se uma pessoa sofrer por ter uma identidade de género não categorizada, deve arranjar-se uma categorização para ela se sentir incluída.
A categorização ou definição é um processo extremamente complexo porque todos nós nos incluímos em várias categorias, dado termos características comuns, mas também, todos nós não nos incluímos totalmente em nenhuma categoria, dado termos nuances que só a nós pertencem. Ora, se levarmos à letra a ideia de que tudo o que faça sofrer uma pessoa ou fazê-la sentir-se não incluída deve ser o ponto de partida para uma nova categoria onde se sinta incluída, no limite teríamos tantas categorias quantas as pessoas que existem.
Portanto, não podemos querer ser absoluta e radicalmente inclusivos porque isso não é possível e é caótico. Uma coisa é haver pessoas que não possam incluir-se em categoria alguma existente - ficariam excluídas, outra muito diferente é querermos todos nós que todas as nossas características estejam perfeitamente reconhecidas e categorizadas para que nenhuma parte de nós tenha algum desconforto que seja alguma vez na vida. Isso não faz sentido. E depois a mudança das nuances da linguagem é lenta porque acompanha a própria evolução social. Tem que haver um ponto intermédio entre uma linguagem inclusiva e uma linguagem caótica e perturbadora.
Por exemplo, nas aulas tento sempre dizer, 'a humanidade' ou 'o ser humano', em vez de 'o homem', porque 'o homem' é uma expressão exclusiva. E explico isso aos alunos. Agora, não me passaria pela cabeça dizer, 'os humanos e as humanas', porque humano e humanidade não excluem. O que quero dizer é que é mais importante a linguagem não excluir que incluir todas as nuances.
Nem consigo imaginar o que seria da literatura se os autores passassem a ser excluídos das editoras por se considerar politicamente incorrecto, não usarem, em cada caso, uma linguagem inclusiva ao absurdo. Mas vou ali escolher um livro ao calhas e ler um bocadinho para ver como fica. Espera aí que já ponho aqui o resultado:
Como se vê, o exagero, para além de ridículo, estraga qualquer página de literatura.
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