Não sou a favor da destruição dos brasões florais da Praça do Império (que quanto a mim devia ter outro nome) mas não por esta razão de se dizer que se não fora o Império seríamos uma parte de Espanha. Na crise de 83-85 não tínhamos Império e mantivemos a nossa independência. Já em 1580, em pleno Império, perdemos a independência, de modo que este raciocínio não faz sentido.
Não sou a favor da destruição dos brasões florais da Praça do Império (se é que ainda existem porque da última vez que olhei pareciam ao abandono) porque nestes assuntos sou a favor de acrescentar perspectivas em vez de destruir, apagar o que foi. Excepção feita aos casos em que manter é uma ofensa clara e anti-pedagógica.
Tivemos um Império e não me parece que tentar fingir que ele não existiu ou que foi só escravatura não nos ensina nada sobre a nossa sombra jungiana: nem a compreendê-la nem a dominá-la. Parte do Império foram as viagens dos exploradores, que são feitos extraordinários; outra parte foi a procura de riqueza (o Preste-João); outra parte foi a religião e outra parte, a pior parte, foi a escravatura e a colonização. Os brasões florais falam mais das viagens de exploração que da escravatura ou da colonização.
É o mesmo que proibir autores porque tinham uma mentalidade ou opiniões a favor da escravatura ou do racismo, pelo menos. Ou do machismo. Eram ideias tão inculcadas no tecido social que as pessoas nem se apercebiam. Muitas ainda hoje não se apercebem. Seria como não ser religioso durante a era medieval ou negar a ciência nos tempos que correm. É praticamente impossível, pois tudo o que temos e fazemos depende da ciência/tecnologia. Mesmo quem é contra as vacinas ou certa tecnologia usa-a a vive no mundo construído por ela.
É muito difícil olhar de fora e parece-me muito mais importante acrescentar perspectivas do que apagar antigas. Outro dia apanhei na TV o filme, 'Peggy Sue Casou-se' e fiquei a ver. A certa altura reparei que no filme todo não há uma única pessoa não-branca, nem entre os alunos todos, os professores, os pais, os lojistas. Ninguém, ninguém. Pareceu-me falso e passei o resto do filme a reparar na ausência de vida não-branca em tudo: roupas, música, tudo. Como se os EUA fossem uma Suécia de outros tempos. Não me lembro de me ter apercebido disso quando vi o filme da 1ª vez que foi há umas dezenas de anos. Lá está, era tão normal essa visão das coisas. Publicidade que há 30 anos parecia um bocadinho criticável, agora parece-me obscena.
Uma pessoa à medida que cresce não apaga o que foi: reconhece e supera e não fica a bater em si mesma como castigo, para o resto da vida nem corta a língua por ter dito qualquer coisa ofensiva. Emenda o passo, mas não destrói as pernas.
Gostava que a Praça do Império se chamasse, Praça dos Exploradores ou então Praça Vasco da Gama que é o símbolo de toda a aventura dos descobrimentos. Também não vejo mal chamar-se descobrimentos, porque o foram, numa altura em que os europeus pensavam que o mundo acabava no Cabo Bojador. Assim como acho normal que os africanos chamem aos descobrimentos, a era dos colonizadores, porque para eles, é isso o que fomos.
Portanto, uma coisa é não apagarmos a memória do Império apesar de ter tido consequências catastróficas na vida de povos inteiros, outra é dizermos que o Império foi importante para a nossa independência, o que é falso: nem foi esse o seu impulso, nem o seu resultado.
Eu não entendo porque há tanta confusão à volta duns canteiros que estão todos estragados!
ReplyDeletesabes sim... são brasões dos países que foram colónias
ReplyDeleteÓ pá, mas aos anos que aquilo está tudo espatifado...se fossem os brasões em pedra da fonte luminosa...mas não!
ReplyDeletehá coisas que atingiram pontos absurdos
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