February 04, 2021

Sociedades de possibilidades impossíveis

 


Tokyo Olympics chief Yoshiro Mori 'sorry' for sexism row

Este indivíduo, chefe do comité olímpico, não quer que as mulheres façam parte da direcção porque não tem paciência para ouvir mulheres. Acha que falam demais. Este é o homem típico, não apenas do mundo asiático mas também do mundo ocidental (dos outros, os do médio oriente, ou os africanos, nem falo, porque ainda estão mais atrás) - está habituado a falar com mulheres num âmbito social, apenas, em grande parte porque vive numa sociedade onde as mulheres são pressionadas para não ocuparem os mesmo espaços que os homens, estarem sempre um passo atrás deles e são castigadas quando desalinham dessa expectativa (como se vê pelas palavras dele e se estivéssemos há uns anos atrás o que ele disse era o que tinha feito e todos achariam normal, nada polémico). 
Por estar habituado a esse privilégio desde que nasceu e não ter que lidar com os obstáculos que as mulheres enfrentam -não estudar, não trabalhar, não falar, não ter iniciativa, não criar, não se fazer notar, não falar alto, não ser ambiciosa, não ser inteligente, para além do limite que põe em causa o seu papel de reprodutora e o lugar do homem na sociedade- não se apercebe que é essa constante opressão das mulheres que permite que, sendo um idiota que não se vê a si mesmo, tenha chegado tão longe.

A maioria dos homens é assim. Não têm noção de si mesmos porque tiveram obstáculos na vida e pensam que os venceram, mas não se apercebem que as mulheres também tiveram esses mesmos obstáculos mais os outros todos, numa base diária, que eles nunca tiveram nem fazem a mínima ideia do que são. 

Fazem-me lembrar Henry Miller, o escritor, muito celebrado na literatura, sobretudo por críticos homens. Os personagens principais de Henry Miller são homens, escritos à semelhança do que ele gostaria de ser nos seus sonhos -um sedutor irresistível- e pensava que era, justamente porque escreveu numa sociedade onde as mulheres era descritas por homens e portanto, sempre de um determinado modo. 
Na verdade os seus personagens principais, por quem as mulheres se apaixonam perdidamente, são misóginos patéticos e superficiais que praticam o bullying sem se aperceberem, sequer, de tal maneira estão encerrados na suas narrativas. 

Imensas mulheres repetem estas narrativas e clichés masculinos acerca delas mesmas, de uma maneira parecida à que vemos nos países do médio oriente muçulmano onde as brigadas de mulheres formatadas para a obediência cega andam na rua a assediar outras mulheres por causa dos lenços na cabeça, para gáudio dos homens, que inventaram o castigo.
Ainda ontem li um comentário a esta notícia, por parte de uma mulher, dizendo que também ela não tem paciência para ouvir mulheres porque falam demais em reuniões...

Vivemos num mundo cheio de possibilidades impossíveis porque são portas fechadas, pela razão da maioria das pessoas ter os olhos fechados, sobretudo para si mesmos.

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