February 04, 2021

Dia mundial da luta contra o cancro 🎗️

 


A Covid-19 tem tido um impacto negativo no diagnóstico e tratamento de doentes com cancro e tendo em conta que é uma doença que em muitos casos depende, para o sucesso do tratamento, de uma acção urgente, esses factores hão-de ter um resultado fatal em muitas pessoas. Alguns cancros têm hoje em dia um prognóstico animador, se detectados cedo, mas são poucos: cancro da mama, alguns cancros da pele, na garganta. Até já há uma vacina para o cancro cervical. 

No entanto, a maioria dos cancros ainda estão longe de ter, senão cura (o cancro é uma doença incurável), pelo menos tratamentos adequados. Todos aqueles que crescem em orgãos que não estão à superfície como a pele, por exemplo, são de difícil detecção: crescem profundamente e não se vêem, nem se sentem os seus sintomas a não ser em estado já avançado.

De todos os cancros, o que mais mata e com maior numero de casos anuais é o do pulmão, justamente por crescer silenciosamente nas profundezas do corpo. E é claro que para depois ser tratado -esse e outros- são necessários métodos extremamente agressivos. Doses massivas de medicamentos devastadores para o organismo, doses assustadoras de radiação. Cirurgias agressivas.

Os tratamentos mais comuns dos cancros são quimioterapia e radioterapia que deixam sequelas importantes, às vezes incapacitantes, para o resto da vida. A radioterapia é um tratamento que pode, ele mesmo, ser causa de outros cancros em orgãos que eram saudáveis, mas que a rádio danifica.

A quimioterapia é feita com medicamentos que atacam a medula, impedindo-a de fazer o seu trabalho de replicar as células. A medula é a 'fábrica' do sangue sem a qual não há replicação das células do corpo. O objectivo é impedir que as células tumorais se repliquem, mas como não se sabe como impedir apenas a  replicação dessas células, fecha-se tudo e não se deixa nenhuma funcionar. Ao fim de uma ou duas semanas as células normais já se restabeleceram e voltam ao seu trabalho. Antes que as células tumorais tenham tempo de se restabelecer também e voltarem a aumentar, dá-se nova dose de quimioterapia para o impedir. 

Com estes ataques durante meses, o organismo vai ficando cada vez mais fraco e vulnerável, ao ponto de a pessoa já nem conseguir mexer-se ou andar ou engolir comida ou levantar um braço ou pensar, sequer... a memória não funciona, não se consegue ler, ter atenção a alguma coisa, raciocinar... também incapaz de lutar contra qualquer agressão, até contra uma pequenina ferida numa mão ou uma pequena constipação. Tudo pode levar à morte porque o organismo tem as suas defesas tão brutalmente atacadas e vulneráveis, algumas de modo permanente, que não consegue defender-se de nada. Alguns destes efeitos são permanentes e nunca mais se consegue reverter. 

Depois, ao mesmo tempo que se destrói o corpo desta maneira sistémica, muitas vezes desfere-se-lhe doses de radio direccionadas ao tumor mas que apanham sempre áreas adjacentes porque as máquinas não tem sofisticação suficiente para só atingirem as células doentes que nem sequer somos capazes de circunscrever com rigor. Por isso, e à cautela, define-se um perímetro mais alargado para apanhar eventuais células tumorais não detectadas, o que significa que se matam células saudáveis e se atacam orgãos saudáveis que ficam para sempre diminuídos. A radio ataca também os músculos e pode deixar  dores para o resto da vida.

Eu penso nos tratamentos oncológicos como um cerco medieval: a quimioterapia equivale ao envenenamentos dos poços que alimentam o castelo de modo que matar a sede, mata o corpo e a radioterapia ao ataque com catapultas que atiram bolas de fogo mais ou menos direccionadas mas que muitas vezes vão acertar nas crianças.

No fim dos tratamentos, mesmo que tenham tido sucesso, 'ganhámos' uma data de doenças por causa dos tratamentos (o resto da vida passada em hospitais a tratar coisas que vão aparecendo) e ainda outras coisas como dores permanentes, dificuldades em engolir, respirar... coisas que dantes me incomodavam como pequenas dores, dormência de mãos, pés, excesso de sensibilidade em zonas do corpo, reacções cutâneas, aftas, e outras coisas, hoje em dia são peanuts e não tenho paciência para as pessoas que se queixam de coisinhas que são mariquices como se fossem uma grande cena... ou de terem feito uma radiografia e acharem perigoso...  ou tomar meia dúzia de medicamentos vulgares durante um tempo... agora, já só as grandes coisas me incomodam. Aqui há tempos comprei brufen na farmácia e a farmacêutica disse-me para nunca em caso algum tomar mais de 3 dias seguidos. Epá, nem lhe disse que houve uma altura em que os tomei 3 meses de seguida e não sei se isso não me salvou a vida...

E mesmo que os tratamentos tenham tido sucesso, vive-se com a incerteza de alguma célula maligna ter sobrevivido ao cerco e estar escondida à espera do momento favorável para que tudo recomece. Por exemplo, hoje em dia, de 3 em 3 meses faço TACs a vários orgãos do corpo para onde o adenocarcinoma do pulmão costuma migrar para ver se migrou...

Hoje em dia também existe a imunoterapia, mas não trata todos os tipos de cancro. O do pulmão é um dos que trata, mas ainda não sabemos as sequelas que deixa porque é relativamente recente. Ainda não se explorou todas as possibilidades desde tratamento que parecem ser animadoras. A imunoterapia é muito menos agressiva que a quimio e a rádio. Infelizmente, como as farmacêuticas põem o lucro à frente de todo, é caríssimo e, por isso, pouco usado. 

Nós que temos doenças oncológicas, agora juntamos à incerteza do cancro e da expectativa de vida (o que tem que ver com o estádio e tipologia de cada cancro) a incerteza da Covid.


Ainda que Portugal figure entre os dez países da Europa com melhores taxas de sobrevivência, um estudo recente da Apifarma - Associação Portuguesa da Indústria Farmacêutica revela que o valor per capita investido no tratamento do cancro é quase metade (57,5%) do valor da média europeia.

World Cancer day


Orientações da Sociedade Portuguesa de Oncologia (SPO) para a população sobre a doença oncológica durante a pandemia pelo coronavírus.

No sentido de orientar e disseminar informações relevantes, relativas ao surto do novo Coronavírus (COVID19), representativo de uma forte ameaça para a saúde pública, a Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC), partilha, com a devida autorização, as informações da SPO para a população sobre a doença oncológica durante a pandemia pelo coronavírus.

A Direção da LPCC continua a acompanhar a evolução do surto pela Covid-19, referindo que deverá ter em conta em orientações em anexo, bem como as que emanam da Direção Geral de Saúde e da Organização Mundial da Saúde.
Aceda ao documento Orientações da Sociedade Portuguesa de Oncologia

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