A comentar as declarações do Presidente do Comité Olímpico Japonês que se declarou contra a participação de mulheres no comité (não por acaso ele não as leva para lá) e decidiu, depois das críticas, que as mulheres poderiam participar mas 'no seu lugar', caladas e sem direito de intervenção (a senhora esquece-se deste pormenor) a Procuradora insurge-se contra o que denomina de castigo à liberdade de expressão, compara este caso aos neonazis, aos que querem o revisionismo histórico e diz que o Presidente do Comité Olímpico Japonês é de um tempo em que havia liberdade de expressão e por isso falou.
Vejamos, ninguém prendeu o Presidente do Comité Olímpico Japonês ou sequer o proibiu de falar. Acontece que as palavras dele, mesmo que não tivessem sido seguidas do acto de fazer o favor de deixar as mulheres assistir desde que caladas, expressam uma vontade convicta de descriminar mulheres, por serem mulheres, baseado na sua opinião pessoal de que os homens, por serem homens, são melhores.
Ora, um organismo oficial que tem uma política expressa de não discriminação e, até, de paridade, tem o dever de acautelar que as pessoas que o dirigem e, desse modo, lhe imprimem uma dinâmica operativa (a sua) não sejam contra os princípios que o norteiam.
Suponha a senhora Procuradora que eu, sendo professora, declaro aqui que prefiro que os rapazes não intervenham nas minhas aulas, porque não sabem articular os pensamentos numa linguagem coerente como as raparigas (estou aqui a usar um preconceito muito difundido em certas escolas da psicologia segundo as quais as raparigas são superiores aos rapazes no discurso) e, para além disso, são mais agressivos.
Seriam só palavras sem importância ou seriam um indicador de discriminação dos rapazes, só por serem rapazes? Acho evidente que seriam um indicador da intenção, senão da prática, de discriminar os rapazes, o que não tem que ver com liberdade de expressão. Ninguém me prenderia por dizer essas coisas, mas se calhar alguém apareceria a ver o que se passa nas aulas ou até seria suspensa, porque a escola pública tem princípios a que estamos obrigados e um deles é o de não discriminação.
Que a senhora Procuradora da República não perceba a diferença entre expressar uma opinião sobre um assunto e manifestar intenção -e prática- de discriminação e ainda que confunda isso com práticas neonazis, preocupa-me bastante e espero que a senhora não seja um exemplo do raciocínio comum dos Procuradores da República.
Esta Procuradora da República queixa-se do peso dos influencers nas redes sociais, mas não vê que é ela própria, uma influenciadora de opiniões, num meio de comunicação social, pois é para isso -para influenciar outros- que escreve o artigo no jornal. Uma página inteira. Então a sua queixa é qual? A de que os outros que pensam de modo diferente tenham acesso a dizer o que pensam nas redes sociais? Esse direito devia ser só seu e dos seus pares? Bem, isso a mim parece-me uma queixa da liberdade de expressão do outros.
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