January 28, 2021

Livros - The Nude

 


Tenho este livro há uns anos mas nunca o li. Vou ler agora. The Nude, de Kenneth Clark. 

(Nota: o livro é acusado de ser muito machista, desde logo porque não tem uma única obra de uma mulher que seja.)

Os ingleses têm duas palavras diferentes para falar do nu: 'naked' e 'nude'. 'Naked' refere-se a alguém que está sem roupas, despido e, de certo modo, vulnerável, mas 'nude' tem o sentido de um estudo do corpo humano onde este se exibe e incorpora algum ideal. Em português usamos a mesma palavra para os dois sentidos e, por isso, geralmente adjectivamos o nu da arte como, 'nu artístico', para o distinguir de simplesmente estar nu.

O nu é, não um tema de estudo da arte, mas uma forma de arte. Quem o iniciou enquanto tal foram os gregos clássicos no século V antes de Cristo. As esculturas de deuses e deusas e heróis nus (os homens que as mulheres tinham sempre algum panejamento a cobri-las) fomentavam um ideal de belo que transbordava para fora da arte: o equilíbrio, a simetria, a graciosidade, a harmonia, eram também características do ideal de vida grego.

Tendo tido sempre grande destaque na arte ocidental, com alguns hiatos como a Idade Média, onde o ideal é sobrenatural e o nu cai em declínio, há poucos livros sobre o assunto. 

O nu é uma parte fundamental da formação do pintor e do escultor, mesmo que nunca produzam obras com nus, pois para pintar ou esculpir figuras humanas, mesmo que vestidas, é necessário conhecer a proporção do corpo, o funcionamento das articulações, o trabalho dos músculos, etc. Sabemos que uma das razões pelas quais as mulheres durante séculos não pintavam grandes quadros, mesmo quando já podiam frequentar estúdios de pintores, como no século XIX, era o facto de estarem proibidas de frequentar os estúdios quando estavam presentes modelos nus. Era considerado moralmente inapropriado. Esses grandes quadros que geralmente representam batalhas ou cenas míticas, estão cheios de pessoas em movimento e em força, o que requer um conhecimento da anatomia do corpo humano.

Delacroix - A Morte de Sardanápalo (1827)


Sendo o nu, na arte, um ideal, o corpo representado nu não é em primeiro lugar uma representação realista de corpos, mas um ideal humano. Logo, é influenciado pelo local e tempo culturais em que é produzida. Veja-se a diferença entre esta obra de Delacroix e a famosa obra, O Nascimento de Vénus de Botticelli, uma obra de 1482-85 do renascimento italiano.

 

Encomendada por um Medici para decorar a sua casa, está imbuída de um pudor cristão, apesar de representar uma cena mítica pagã. O corpo de Vénus é suave como se fosse feito de algum material divino e não de carne e osso e a expressão dela é tranquila. O azul celeste e a serenidade pacífica, apesar do quadro representar a fecundidade da Primavera, estão por todo o lado.

Portanto, o nu, na arte, expressa um ideal, uma ideia e não é uma mera representação anatómica do corpo ou de excitação dos sentidos, mesmo quanto tem esse propósito, porque uma pessoa quando se expressa, denuncia-se na sua visão do mundo. Além disso, para excitar os sentidos, na maioria das vezes pintam-se os corpos vestidos, sendo a roupa tão sugestiva.

Enfim, vou ler este livro. Vou pondo aqui partes que ache interessantes de partilhar.



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