January 22, 2021

Este indivíduo não sabe pensar

 


... e no entanto não teve o seu percurso escolar interrompido por nenhuma pandemia... só para começar acho piada a defesa das mulheres por parte de uma pessoa que há uns anos lançava para o ar a ideia de que as mulheres deviam ser proibidas de ter acesso ao trabalho antes de parirem filhos para a sociedade... está mesmo a ver-se que ele está muito preocupado com os sonhos das mulheres... mas pronto, faz de conta que nos esquecemos disso.

Ele fala na cultura do medo mas não apresenta nenhuma razão para que possa defender que os cuidados com a propagação do vírus não passam de uma empolgação do medo: "é uma cedência a uma opinião pública que não lê, uma opinião viciada em imagens de tv emotivas."(falácia ad hominem) Aliás, quem tenta infundir o medo é ele, falando numa catástrofe para as crianças, como se fossem todas ficar pobres por estarem 15 dias de férias. Mais ainda, os que estão contra fechar as escolas é que são os que não lêem, vêem demasiada TV, acreditam nas conspirações das redes sociais, se calhar como ele mesmo, porque os que estão no terreno a lidar com os efeitos do vírus e com as tais crianças e jovens adolescentes, não têm tempo, como ele, para desperdiçar em programas de TV.

Um pediatra diz que fechar as escolas é um erro e que destrói a vida das crianças. Mesmo que fosse um caso tão radical (estas são frases bombásticas para causar emoção), um pediatra não é um epidemiologista e não é um professor, não trabalha numa escola, de modo não lhe cabe a ele dizer o que deve ser feito. Portanto, não conta como autoridade, a não ser na sua experiência de pediatra. Aliás, a esses que falam bombasticamente da destruição de crianças, gostava que me me mostrassem algum dado, para essas afirmações que fazem. Tenho curiosidade em vê-los. Porque do outro lado, estão os milhares de mortos e os milhares de doentes, não apenas de covid-19, mas de todas as outras doenças, como as oncológicas que não estão a ser tratadas porque os hospitais estão cheios, porque as pessoas não param de infectar-se.

"... não há qualquer evidência que mostre que a expansão do vírus está relacionada com as escolas, sobretudo se pensarmos na pré e na primária" - esta a falácia do apelo à  ignorância: uma proposição é falsa porque desconhecemos que seja verdadeira. Isto é igual ao argumento, 'Deus não existe porque não há evidências dele, ninguém provou que Ele existe.' 

E esta vaga começou quando as crianças estavam de férias? Está a falar do Natal, quando as famílias se juntaram aos molhos para as crianças brincarem umas com as outras? Não estavam em contacto com os pais? Não podem ter sido elas a contagiar os adultos? Na verdade não sabemos, embora saibamos que as escolas são, sempre, locais de contágio de doenças. Quando uma criança tem meningite ou escarlatina ou papeira, isolam-na logo e por vezes fecham as escolas para evitar o contágio. E isto é porque já não há sarampo, varicela, tuberculose e outras doenças que se erradicaram, praticamente, com as vacinas. Portanto, não sabemos se as crianças e adolescentes contagiam muito ou pouco este vírus mas sabemos que é isso o que costuma acontecer com outras doenças.

Portanto, antes que cheguemos à situação da Itália ou da Espanha, por cautela, é melhor terem 15 dias de férias do que termos os mortos amontoados em valas comuns, não? Pior do que atrasar um ano a vida, é morrer, não? Porque é que este indivíduo não se oferece como voluntário para trabalhar nas escolas ou hospitais, para ver o que se passa?

O artigo dele é um conjunto de opiniões não argumentadas. Atira-as para a frente, sem mais.


Fechar as escolas: destruir uma geração de crianças (e de mães)


E este novo #ficaremcasa não representa só a destruição do futuro de uma geração de alunos pobres; também representa a destruição dos sonhos profissionais de muitas mulheres de todas as classes, porque são elas (e não eles) que se sacrificam em casa pelos filhos.

Já vamos num ano de pandemia e de cultura do medo. Passado todo este tempo, uma coisa é clara: o pós-verdade é muito democrático na sua distribuição. Não é só o extremo trumpista que não respeita a ciência; o extremo dominante, o extremo hipocondríaco que se julga moralmente superior, também não respeita as evidências. Fechar as escolas é uma decisão errada e irracional; é uma cedência ao medo difuso sem base científica; é uma cedência a uma opinião pública que não lê, uma opinião viciada em imagens de tv emotivas; é um acto de desespero de uma sociedade que falhou na protecção dos mais velhos e que agora desprotege os mais novos.

Na SIC, Francisco Abecassis, pediatra intensivista, foi claro: fechar as escolas é um erro que destruirá a vida de muitas crianças, sobretudo das mais pobres. Este pediatra foi claríssimo e corajoso: “eu e muitos dos meus colegas somos contra o fecho das escolas”. Porquê? Volto à minha coluna da semana passada: as crianças não são afetadas e não há qualquer evidência que mostre que a expansão do vírus está relacionada com as escolas, sobretudo se pensarmos na pré e na primária. Recorde-se, de resto, que esta vaga começou quando as crianças estavam em casa de férias. Portanto, é absolutamente escandalosa a narrativa que se quis impor esta semana. Não, a culpa desta vaga não é das crianças, não é das escolas, encontrem por favor outro bode expiatório.
(...)

4 comments:

  1. Há gente que, pura e simplesmente, não sabe o que diz.

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  2. mas tem grande destaque no jornal

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  3. Ao imbecil não ocorreu que a questão não é tanto essa, mas o facto de haver mais de 2 milhões de pessoas em movimento por causa das escolas?
    A vida das crianças vai ser destruída por causa de 15 dias? Bom, tenho uma novidade para o sujeito: vai ser um mês ou mais.

    Culpe o governo por não ter previsto nada, por ter sido criminoso com a salvação do Natal, por não ter plano nenhum e por ter mentido como é costume: anuncia que vai fazer A e B e não cumpre.

    Culpe todos os idiotas que se cansaram dos cuidados e fizeram disparar os contágios. Não se pode ser o Costa do Postigo e culpar "os portugueses", mas também não se pode ser do grupo oposto, que desculpa o comportamento de muitos portugueses.

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  4. o Costa do Postigo... não consigo evitar dar risadas...

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