Agora mesmo uma pessoa de um grupo do FB perguntou, por curiosidade, calculo, se os nosso pais nos deram alguma educação sexual. Bem, tirando aquele sentido em que o exemplo da relação dos pais é em si mesmo uma parte da educação sexual... pois, não. Eram de outra época, apesar de hoje em dia ainda haver quem se oponha a que haja educação sexual nas escolas, vá-se lá saber porquê. Conservadorismo, acho.
No entanto, eu vivi uns tempos no campo e fazia-se criação de tudo quanto era animal. Além disso, o meu pai era criador de cavalos lusitanos e volta e meia havia lá garanhões e, embora nos tentassem manter afastadas da arena onde faziam a cobrição, com pretextos de ter fugido um touro, nós víamos muito bem os garanhões ali à espera e a sentirem as éguas com o cio... é impossível não ver o que se passa, de modo que assim que nos diziam que tinha fugido um touro arranjávamos sempre maneira de ir ver. Achávamos aquilo um misto de nojento e cómico de rir à gargalhada. Isto aí pelos 10 anos.
Enfim, na verdade quem me ensinou muita coisa, indevidamente, foi um mau professor. Se fosse hoje era um escândalo. Isto passou-se no ano do propedêutico (onde não havia aulas e cada um que estudasse sozinho ou em externatos para os exames), tinha eu 18 anos e como mudei a área de estudos, porque estava a estudar línguas e depois resolvi ir para filosofia, tinha que preparar-me para o exame de história e de geografia, disciplinas que não tinha nos dois anos do complementar, como se dizia então. História estudava sozinha, como todas as outras disciplinas, mas geografia metia gráficos, tabelas e outras operações que eu não sabia e a minha mãe deu-me dinheiro para me inscrever nessa disciplina num externato.
Primeira aula (e única, diga-se de passagem): a turma era, o professor, que devia andar pelos trinta anos e dois colegas que tinham a mesma idade que eu, mais coisa menos coisa. Os dois rapazes sentaram-se numa ponta da sala e eu na outra que não gosto de ajuntamentos. O professor perguntou o nome e qualquer coisa que já não lembro. A propósito de qualquer coisa que já não lembro, um dos rapazes disse que tinha lido que havia uma mosca da qual se fazia um pó afrodisíaco e perguntou se era verdade. O professor disse que sim. O rapaz pediu-lhe para explicar e ele explicou e o rapaz insistiu e quis saber se era verdade que aquilo fazia erecções que duravam 5 horas. Fiquei com os olhos em bico. Nunca tinha ouvido falar de tal coisa. E o professor respondeu e os rapazes desataram a falar da sua experiências sexuais e o que faziam, como e pediam orientações ao professor e falavam de tudo: das erecções que tinham, das vezes que fizeram sexo, como correu, perguntavam como melhorar isto e aquilo, o professor explicava tudo e falava da sua experiência também. Eu estava completamente imóvel e um bocado chocada com algumas coisas que eles disseram, porque era uma pessoa com pouca experiência -só pensava na filosofia e não tinha pachorra para namorados e fugia dos rapazes - mas justamente por causa disso, a minha cabeça era uma espécie de registadora a assimilar e a arquivar aquela informação toda.
O tempo todo que durou esta conversa, que foi a aula inteira, uma hora, nem o professor nem os rapazes olharam para mim, foi como se não estivesse ali. No fim da hora, o professor volta-se para mim e diz, 'a Beatriz tem 18 anos, é adulta, espero que não tenha ficado chocada com a nossa conversa'. É claro que eu não ia dar parte de fraca e disse, 'não, claro que não.' Nunca mais lá pus os pés, não por causa da conversa mas porque nesse ano em que o meu pai tinha morrido e o dinheiro escoava-se pelo ralo à velocidade da luz, não ia pagar uma data de dinheiro por aulas com uma mau professor onde não aprendia nada para o exame de geografia.
Enfim, se tivesse aprendido geografia com a mesma concentração e afinco com que aprendi aquela informação toda, tinha tido um 20 😁
Meu Deus, que externato! Ainda bem que fiz o serviço cívico!
ReplyDeletefoi a minha única experiência de externato. sei que contratavam professores substitutos porque nessa altura havia muita falta de professores e os que havia estavam nos liceus. Mas enfim, o indivíduo nunca olhou para mim o que é um sinal, vejo eu agora, de que sabia que aquilo que estava a fazer não era correcto. Ou então era só machista... sei lá... lá que foi uma aula útil... ah isso foi :)
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