January 25, 2021

da educação sexual

 


Agora mesmo uma pessoa de um grupo do FB perguntou, por curiosidade, calculo, se os nosso pais nos deram alguma educação sexual. Bem, tirando aquele sentido em que o exemplo da relação dos pais é em si mesmo uma parte da educação sexual... pois, não. Eram de outra época, apesar de hoje em dia ainda haver quem se oponha a que haja educação sexual nas escolas, vá-se lá saber porquê. Conservadorismo, acho.

No entanto, eu vivi uns tempos no campo e fazia-se criação de tudo quanto era animal. Além disso, o meu pai era criador de cavalos lusitanos e volta e meia havia lá garanhões e, embora nos tentassem manter afastadas da arena onde faziam a cobrição, com pretextos de ter fugido um touro, nós víamos muito bem os garanhões ali à espera e a sentirem as éguas com o cio... é impossível não ver o que se passa, de modo que assim que nos diziam que tinha fugido um touro arranjávamos sempre maneira de ir ver. Achávamos aquilo um misto de nojento e cómico de rir à gargalhada. Isto aí pelos 10 anos.

Enfim, na verdade quem me ensinou muita coisa, indevidamente, foi um mau professor. Se fosse hoje era um escândalo. Isto passou-se no ano do propedêutico (onde não havia aulas e cada um que estudasse sozinho ou em externatos para os exames), tinha eu 18 anos e como mudei a área de estudos, porque estava a estudar línguas e depois resolvi ir para filosofia, tinha que preparar-me para o exame de história e de geografia, disciplinas que não tinha nos dois anos do complementar, como se dizia então. História estudava sozinha, como todas as outras disciplinas, mas geografia metia gráficos, tabelas e outras operações que eu não sabia e a minha mãe deu-me dinheiro para me inscrever nessa disciplina num externato. 

Primeira aula (e única, diga-se de passagem): a turma era, o professor, que devia andar pelos trinta anos e dois colegas que tinham a mesma idade que eu, mais coisa menos coisa. Os dois rapazes sentaram-se numa ponta da sala e eu na outra que não gosto de ajuntamentos. O professor perguntou o nome e qualquer coisa que já não lembro. A propósito de qualquer coisa que já não lembro, um dos rapazes disse que tinha lido que havia uma mosca da qual se fazia um pó afrodisíaco e perguntou se era verdade. O professor disse que sim. O rapaz pediu-lhe para explicar e ele explicou e o rapaz insistiu e quis saber se era verdade que aquilo fazia erecções que duravam 5 horas. Fiquei com os olhos em bico. Nunca tinha ouvido falar de tal coisa. E o professor respondeu e os rapazes desataram a falar da sua experiências sexuais e o que faziam, como e pediam orientações ao professor e falavam de tudo: das erecções que tinham, das vezes que fizeram sexo, como correu, perguntavam como melhorar isto e aquilo, o professor explicava tudo e falava da sua experiência também. Eu estava completamente imóvel e um bocado chocada com algumas coisas que eles disseram, porque era uma pessoa com pouca experiência -só pensava na filosofia e não tinha pachorra para namorados e fugia dos rapazes - mas justamente por causa disso, a minha cabeça era uma espécie de registadora a assimilar e a arquivar aquela informação toda. 

O tempo todo que durou esta conversa, que foi a aula inteira, uma hora, nem o professor nem os rapazes olharam para mim, foi como se não estivesse ali. No fim da hora, o professor volta-se para mim e diz, 'a Beatriz tem 18 anos, é adulta, espero que não tenha ficado chocada com a nossa conversa'. É claro que eu não ia dar parte de fraca e disse, 'não, claro que não.' Nunca mais lá pus os pés, não por causa da conversa mas porque nesse ano em que o meu pai tinha morrido e o dinheiro escoava-se pelo ralo à velocidade da luz, não ia pagar uma data de dinheiro por aulas com uma mau professor onde não aprendia nada para o exame de geografia. 

Enfim, se tivesse aprendido geografia com a mesma concentração e afinco com que aprendi aquela informação toda, tinha tido um 20 😁 



2 comments:

  1. Meu Deus, que externato! Ainda bem que fiz o serviço cívico!

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  2. foi a minha única experiência de externato. sei que contratavam professores substitutos porque nessa altura havia muita falta de professores e os que havia estavam nos liceus. Mas enfim, o indivíduo nunca olhou para mim o que é um sinal, vejo eu agora, de que sabia que aquilo que estava a fazer não era correcto. Ou então era só machista... sei lá... lá que foi uma aula útil... ah isso foi :)

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