Quando uma pessoa se põe a ser, apenas, nota a estranheza da vida. Tudo e todos são estranhos. De vez em quando alguém sai da penumbra alienígena e torna-se -nos familiar por dentro. Mas isso é uma raridade. Estou aqui meio às escuras porque não me apetece ainda acordar completamente e reparo nos livros. Paredes de livros. Tantos livros. São já putrefacções de mim? Cada um deles quando os comprei foram alguma coisa que me alimentou -mesmo os que ainda estão por ler- e agora estão ali como marcadores somáticos da minha pessoa: marcam o que pensei, o que senti, o que me foi importante. Parecem mortos, mas não estão. Se abrir um deles e espreitar lá para dentro renasce imediatamente e alimento-me da sua força viva intacta. Vou desaparecer primeiro que eles e se tudo for pelo melhor hão-de ser força viva para outros. No meu melhor momento de não me sentir estranha na vida penso que quando desaparecer desta forma humana especificamente Beatriz, esta Beatriz diferente das outras, hei-de voltar ao estado de átomos dispersos por aí, quem sabe se não me hei-de misturar aos átomos de alguns dos livros que mais me fizeram. De qualquer maneira já acredito que parte de mim, os átomos que a materialidade do meu corpo vai perdendo, estão algures aqui nesta sala misturados também nos livros e outros objectos. E se por casualidade os átomos se destruirem, o que pode acontecer, disse-me uma amigo físico, transformam-.se em fotões: pontos de luz, de energia. Uma força de vida, portanto. É isso que somos: uma certa energia, que por um tempo ganha forma e mais ou menos conteúdo (e nisso os livros têm um grande papel [agora teve piada] ) e depois volta à sua tranquilidade de errante no espaço. Errantes era o nome que os antigos davam aos planetas no seu movimento orbital. Somos errantes e passamos de um estado de errância a outro.
Enfim, agora que já tive o meu momento estranho do dia, vou beber um café e ler as notícias. Quem foi o ministro que hoje chorou em vez de fazer o seu trabalho e outras estranhezas 😁
Essa ideia de me transformar num ponto de luz agrada-me! Luz, como as luzinhas que tu pões à noite com as músicas! Fixe! Vou ser uma luzinha!
ReplyDeleteQuanto à Ministra, meu Deus! Aquilo são lágrimas de crocodilo! Ou então, já está a pensar que, com a trapalhada das vacinas, vai ter mesmo de sair...
não, ela estava mesmo emocionada e não vai sair. então o cabrita já leva em cima os incêndios, as golas e o ucraniano e está de cal e pedra...
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