Hanna Arendt distingue a procura da verdade que pertence à ciência, que busca certezas irrefutáveis através das evidências das aparências, para cujo acesso constrói máquinas cada vez mais precisas, da procura de sentido, que ultrapassa os limites do mundo fenoménico, das aparências e seus semblantes.
Segundo Arendt, enquanto o intelecto quer saber, o pensamento quer pensar e para pensar é necessário que o pensamento se recolha em si mesmo, porque o sentido não se mostra na aparência e para o apreender é preciso desviar os olhos da aparência, pois quando nos fixamos nela, nos traços sensoriais, estamos-lhe atentos e deixamos de pensar: apenas raciocinamos sobre o que nos é ali dado na percepção sensível. Os princípios, fundamentos do que aparece, não se mostram nas próprias aparências e são uma questão distinta da questão da verdade, embora a ela estejam ligados.
É diferente possuir verdades científicas, de possuir sabedoria, como ela mostra neste excerto onde o poema diz,
Imprevisivelmente, há décadas, Tu chegaste/ entre a interminável cascata de criaturas vomitadas / pela bocarra da Natureza. Um evento aleatório diz a ciência.
- ao que ela acrescenta: O que não nos impede de responder com o poeta:
Aleatório, o tanas! Um verdadeiro milagre, digo Eu / Pois quem não tem a certeza de que estava destinado a ser?
Este, 'estar destinado a ser' não é uma verdade [científica] mas está carregado de sentido. Todas as verdades científicas são verdades de facto (de evidências observáveis); todas as verdades do pensamento, metafísicas, são verdades de sentido, de significado.
Quando queremos procurar o sentido de uma época, de um acontecimento, enfim, de uma realidade qualquer, é preciso ultrapassar os factos e aparências dados, sob o risco de apenas produzirmos colecções de verdades sem sentido, presas nos seus próprios limites de percepção.
É certo que não há sabedoria, sentido, construídos sobre o falso o que significa que a verdade importa ao sentido, mas o sentido não se reduz à verdade do facto. O que me lembra a frase frequentemente atribuída a Platão, 'Estou a tentar pensar, não me confunda com factos'
(traduzido do americano ahah)
Hanna Arendt morreu há 45 anos, em Dezembro de 1975.
Deixou parte desta obra inacabada.
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