December 20, 2020

Cenas

 


Resolvi abrir os vinhos que estão lá nos buracos de cima onde vou pouco porque tenho que pôr-me em cima de um escadote para lá chegar. Como resultado, alguns estão lá pousados desde o século passado, o que não é bom por várias razões, uma delas a de se estragarem, obviamente. De modo que resolvi bebê-los antes que se estraguem. 

Lembro-me sempre do último ano antes de sairmos do Alentejo, em 1975,  em que um dia, estávamos à mesa de jantar e o meu pai anunciou que íamos beber a garrafeira antes que ocupassem a herdade e ficassem com os vinhos. É claro que não conseguiu, nem de perto nem de longo, porque tinha uma grande garrafeira (não é esta cenazinha que eu tenho) como é próprio de um ribatejano que ainda por cima tinha como muitos dos amigos de infância e de faculdade grandes produtores de vinho que o ofereciam à fartazana. Mas foi nesse ano que comecei a beber vinho, porque ele deixava-nos beber um dedo de vinho ao jantar para aprendermos a gostar de bom vinho. O que aconteceu.

Enfim, isto para dizer que ando a beber o vinho dos buracos de cima que é o mais antigo que cá tenho (excepto os Porto). Aquela garrafa branca lá em cima é um Colares tinto reserva de 1989! Se calhar já está estragado... olha, se estiver, vai fora e abre-se outro, quero lá saber! O mês passado abri um vinho tinto com mais de vinte anos e estava espectacular. Depois, lembrei-me de ir à net ver o preço da garrafa...  anda pelos 300 euros... ahah  ... tenho andado a beber vinho dessa ordem...  ahah  ... às vezes a acompanhar uma omelete.  ahahah

Assim de 5 em 5 anos, dá-me para fazer uma pesquisa séria e muito trabalhosa para comprar algum vinho para guardar, sendo que o compro a preços comportáveis, sabendo que vão melhorar com o tempo - se entretanto não me esquecer deles e não se estragarem. E é assim que tenho estes vinhos espectaculares.

Enfim, como este ano não vou passar o Natal com o resto da família -muitos irmãos e muitos sobrinhos, muita gente- e fico por aqui só com duas ou três pessoas, vou abrir vinhos que, ou estão espectaculares, ou vão pelo ralo abaixo   ahah    Há ali um Tapada de Coelheiros branco com 20 anos... para não falar do branco da Adega do Bombarral, que é um branco quase licoroso, espectacular, mas que já tem quase 40 anos. O rótulo já mal se vê... mas eu tenho fé! Até agora ainda não apanhei um único estragado. E vem aí o meu irmão mais velho, que tem estado fechado em tele-trabalho e que não vejo há muito mais de um ano lol ( moramos todos num raio de 70 km, no máximo, mas às vezes é como se morássemos em países diferentes) e que é um apreciador de vinhos. Agora ando a beber um vinho de Lisboa, bem bom!


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