Face a um trauma, um problema do mundo interno, cada um tem a sua maneira de lidar com ele: uns recalcam-no, outros poetizam-no, outros sublimam-no, outros evitam-no. Cada maneira tem as suas consequências próprias.
A minha maneira é: depois de reconhecido como um problema -o que geralmente acontece pelas consequências que produz- [nem todos o vêem como um problema, alguns vêem-nos como uma distinção, mas para mim, tudo o que impede o crescimento e a evolução internas são um problema] reunir informação sobre o problema, descobrir os padrões do problema, perceber como funciona a sua acção de 'marcador' e 'des-somatizá-lo'. A sua causa, que são a(s) experiência(s) que o causaram mantêm-se e aceito-as como parte da minha individualidade, mas reconstruída com um sentido próprio. Não dou aos meus traumas o poder de me conquistarem. Não me quereria ver como uma figura trágica, sofredora, nem como um boneco nas mãos do destino: prefiro e escolho ver-me como um ser humano que aceita a sua parte de sorte e má-sorte e se transforma continuamente no sentido do crescimento, sempre que a minha inteligência o permita.
Karl Jaspers tem uma frase que gosto muito, 'O homem é um ser a caminho' - somos inacabados e não temos estação de chegada pre-determinada pelas condições prévias da nossa existência.
António Machado diz ainda, 'Caminhante são teus passos o caminho, o caminho faz-se ao andar.
E Sarte diz, 'estamos sós e sem desculpas': a nossa liberdade -de nos fazermos e refazermos- é total e por isso, o que fazemos e não fazemos é da nossa responsabilidade. Os outros fizeram o que fizeram e nós fazemos o que entendermos e escolhermos fazer com aquilo que nos fizeram e dessa maneira re-fazemos-nos. É um trabalho permanente.
Alguns bons actores são muito bons neste processo: seja porque estão sempre debaixo dos holofotes e sabem que toda a sua vida é esquadrinhada ao milímetro, de modo que não vale a pena tentar esconder, de modo que aceitam, reconhecem e processam os maus capítulos da vida; seja porque têm que interpretar personagens com histórias de vida e padrões de comportamento próximos dos seus o que os obriga a confrontarem-se com os seus fantasmas. O que acontece é que são obrigados à honestidade consigo mesmos, com os seus shortcomings e isso abre perspectivas enormes de crescimento.
(hoje estou muito confessional :) )
Hoje estás humana, no sentido em que, porque estás viva, pensas e logo existes. E ainda bem, por ti e por quem de ti gosta😊
ReplyDeleteA minha mãe morreu em 1987. Nunca conheci verdadeiramente a minha mãe, ou seja, a sua inner soul, percebes? Será que foi culpa minha por ter andado na minha vida, a tentar ser feliz, ou foi por culpa dela que se mantinha afastada de mim e muito centrada no meu pai? Não sei...nem nunca vou saber!
ReplyDeleteSó espero que isso não aconteça comigo e com a minha filha. Mas ela também está muito centrada na vida dela...