Reverenciamos o ideal mas amamos o humano e é por isso que os religiosos se ofendem com toda a representação do divino com falhas humanas: porque querem reverenciar os seus ideais livres da humanidade que traz em si a marca da animalidade, do que é inferior. Mas isso é um amor infantil, como aquele que os filhos têm pelos pais até uma certa idade, que é acima de tudo reverência e não suporta e se choca profundamente ao ver as suas falhas, que para sempre se parecem como a queda de um anjo.
Aqui há uns anos li um conto de um escritor brasileiro que já não lembro quem é, que ilustrava muito bem esta diferença - é acerca de um homem que amava uma mulher de uma forma ideal: ela era linda, era pura, era etérea, enfim, como costumavam ser descritas as mulheres noivas nos romances da época. Depois casou com ela, mas não era capaz de dormir com ela porque não a imaginava em actos tão animais, tão humanos, tão feios em toda a sua crueza, quando despidos de afectos. E assim passou uns tempos, muito amargurado e ela muito perplexa com o comportamento dele. Um dia, chegou a casa mais cedo e a mulher estava na casa-de-banho e ele viu-a e ouviu-a, pela primeira vez, como um animal humano. Daí para frente o problema dele desapareceu completamente.
às vezes as pessoas é isso que querem, ser reverenciadas, idealizadas e não amadas, pois isso significa a exposição do animal humano nelas. Trump é o exemplo mais óbvio.
Reverenciamos o ideal, mas amamos o humano.
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