November 10, 2020

Acerca das eleições americanas e da análise de Varoufakis

 


Esta análise de Varoufakis despreza factos importantes:

1. Diz que a margem de votos da vitória de Biden foi muito curta e isso deu esperança e força aos trumpistas que ele apelida de racistas, fascistas, etc. e, conclui que essa gente se vai radicalizar e engrossar fileiras.

Logo aqui há três factores que ele despreza: o primeiro é que é muito raro um presidente não ser reeleito para um segundo mandato. E, excepto Roosevelt que venceu com uma grande margem Hoover , os outros perdem sempre por uma curta margem. A vantagem é sempre de quem está no poder e tem o controlo da situação. De modo que a derrota de Trump, mesmo por uma relativamente curta margem (sempre foram quase 6 milhões), tem um grande significado; em segundo lugar, Varoufakis esquece que, se os trumpistas conseguiram crescer rapidamente em 4 anos de presidência de Trump, os moderados, desde que Biden faça um trabalho decente e, ainda mais se for reeleito, como é o costume, tem 4 anos e mais outros 4 para desradicalizar o país. Sabemos que ele tem essa intenção, disse-o, de modo que não há razão nenhuma, nem Varoufakis apresenta razões para que assim não seja. Finalmente, em terceiro lugar, os eleitores de Trump são 70 milhões e enfiá-los todos na gaveta dos racistas e fascistas é fazer o que ele acusa os direitistas de fazerem aos muçulmanos, que é chamarem terroristas a todos indiferenciadamente. Entre os eleitores de Trump há muitos desiludidos com o sistema que depois de 2008, em vez de se transformar, voltou ao mesmo, mas ainda com mais força. A maioria não são fascistas e racistas e são pessoas que mudam o voto se virem resultados. Isso depende de Biden.

2. Ele pensa que o Bernie S. é que devia ter concorrido contra o Biden mas eu acho que se tivesse sido essa a escolha do partido tinham perdido as eleições porque para os americanos ele é um comunista e eles têm pavor de comunistas. Mais ainda, agora que o senado está empatado, Varoufakis pensa que Biden vai aproveitar essa desculpa para esquecer o Green Deal e comportar-se como um Clinton qualquer. Não sei porque é que ele diz isso, a não ser por não gostar de Biden e não acreditar nele, mais nada. Não adianta nenhuma razão. 

A mim, pelo contrário, parece-me que Biden é uma pessoa bem intencionada e com os pés na terra. Tem imensa experiência do que é a presidência e a pressão dos lobbies e do que são as lutas no Senado. Tem uma vice-presidente que é uma pessoa séria. Tem o Obama como conselheiro. Eu vejo estes factos como sinais positivos e de esperança. É verdade que nunca sabemos o que as pessoas, depois de estarem nos cargos, fazem, mas ele já deu provas de não ser um indivíduo preso nas mãos de grande grupos e sem liberdade de acção.

3. Varoufakis tem a velha estratégia comunista que é: quanto pior melhor. Preferia que Trump tivesse ganho para que os democratas se organizassem e vencessem depois por grande margem que permitisse destruir o sistema da banca sem oposição nem compromissos. Os partidos comunistas preferem sempre não ter que negociar. Quanto pior melhor foi uma das razões que levou muitos milhares a votar em Trump e viu-se no que isso deu. Essa estratégia nunca funcionou na História e só serviu para radicalismos e para espalhar o caos, pois uma reforma ou revolução imposta por uma das partes, é imediatamente desfeita quando a parte contrária chega ao poder, como temos visto na Europa e agora nos EUA. As reformas duradouras são aquelas que são negociadas e, por isso mesmo, assumidas e queridas por ambas as partes. Não as outras. Um àparte: essas reformas estúpidas são o que tem destruído a educação em Portugal - cada iluminado revolucionário que lá chega destrói tudo para impor a sua ideologia.

No entanto, Varoufakis prefere essa estratégia de 'melhor partir tudo' e depois fazer de novo, porque não acredita em Biden e na vontade e poder dele para mudar o status quo económico. Sim, ele está contente que os Bolsanaros deste mundo percam o apoio dos EUA, mas menoriza esse facto, esquecendo que o apoio ou não apoio do presidente americano tem um enorme peso nos destinos do mundo, como se viu, infelizmente, com Trump. Aliás, ele fala como se isso fosse um bocadinho indiferente por causa da banca. 

Em suma, são presos por ter cão e por não ter ter: se ganham é uma chatice porque não dão tempo aos democratas de se radicalizarem e darem um murro na mesa da banca; se têm boas intenções não interessa porque são incompetentes na questão do Senado; na verdade ele não tem razões para estar negativo a não ser não terem nomeado o homem que defende as ideias dele. Ok, isso é legitimo, mas não é uma análise política, que é uma interpretação desapaixonada: é só uma queixa de ressentimento por não gostarem daquilo que ele pensa ser a verdade. Faz lembrar a Marian Mortágua, hoje no JN a criticar a aliança dos Açores usando como argumento, 'sim, eu fiz isso também, mas eu estava certa porque eu sei a verdade e vocês estão errados'. A sério ...?

Até mesmo dizer que Trump não começou uma guerra é enganador. Pois não começou, não, mas engordou a conta corrente, como se costuma dizer: bombardeou mais e pior em 4 anos que Obama em 8.



3 comments:

  1. Vamos ver se o Biden vai fazer alguma coisa de jeito. Como diz uma amiga minha que viveu 8 anos nos EUA a acompanhar o marido que, nessa altura era cônsul, não há muita diferença entre Republicanos e Democratas! É claro que o Trump era um caso de estudo....

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  2. desculpa não responder. piorei do olho e estou aflita. estou aqui a ver se resolvo isto

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  3. melhorei um bocado. chiça! pois, isso é o que acontece com a esquerda e a direita por todo o lado, de modo que temos que esperar que as pessoas sejam diferentes

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