Passo os dias desorientada.
Pronuncio palavras sem peso.
Vivo numa escuridão cega.
Careço de rumo na vida.
Sobre mim paira monstruoso,
como um novo pássaro enorme e negro,
o resto da noite.
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Porque me dás a mão
com timidez e às escondidas?
Tão longínquo é o país de onde vens?
Não conheces o nosso vinho?
Vives em tamanha solidão
que não conheces a nossa tão bela ferocidade
quando estamos um no outro
com o coração e com o sangue?
Não conheces as alegrias diurnas
quando se vai com o amado?
Nem conheces a despedida vespertina
de quem vai de luto sofrendo?
Vem comigo e deseja-me,
não penses nos teus medos.
Conseguirás ser sincero?
Vem, toma e dá!
Logo percorreremos os campos dourados
‒ papoila e trevo silvestre –
mais tarde, o mundo inteiro
nos fará sofrer
quando sentirmos que a recordação
sopra com força o vento
quando, estremecendo, a nossa alma
suspirar pela ternura sonhada.
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Não tereis pátria e morada no Hades?
Não tereis por fim a paz dos abismos?
Água e terra, fogo e ar vos são devotos
como se um poderoso deus os tivesse possuído (…)
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Direito e liberdade:
Irmãos, não vacileis,
diante de nós resplandece a aurora!
Direito e liberdade:
Irmãos, ousemos,
amanhã venceremos o demónio!
Hannah Arendt
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A poesia, cujo material é a linguagem, é talvez a mais humana e a menos mundana das artes, aquela cujo produto final permanece mais próximo do pensamento que o inspirou. A durabilidade de um poema resulta da condensação, de modo que é como se a linguagem falada com extrema densidade fosse poética por si mesma.
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