October 14, 2020

Beba poesia sem moderação



 




Passo os dias desorientada.

Pronuncio palavras sem peso.
Vivo numa escuridão cega.

Careço de rumo na vida.

Sobre mim paira monstruoso,
como um novo pássaro enorme e negro,
o resto da noite.

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Porque me dás a mão
com timidez e às escondidas?
Tão longínquo é o país de onde vens?
Não conheces o nosso vinho?

Vives em tamanha solidão
que não conheces a nossa tão bela ferocidade
quando estamos um no outro
com o coração e com o sangue?

Não conheces as alegrias diurnas
quando se vai com o amado?
Nem conheces a despedida vespertina
de quem vai de luto sofrendo?

Vem comigo e deseja-me,
não penses nos teus medos.
Conseguirás ser sincero?
Vem, toma e dá!

Logo percorreremos os campos dourados
‒ papoila e trevo silvestre –
mais tarde, o mundo inteiro
nos fará sofrer

quando sentirmos que a recordação
sopra com força o vento
quando, estremecendo, a nossa alma
suspirar pela ternura sonhada.

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Mortos: que quereis?
Não tereis pátria e morada no Hades?
Não tereis por fim a paz dos abismos?
Água e terra, fogo e ar vos são devotos
como se um poderoso deus os tivesse possuído (…)

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Direito e liberdade:
Irmãos, não vacileis,
diante de nós resplandece a aurora!
Direito e liberdade:
Irmãos, ousemos,
amanhã venceremos o demónio!

Hannah Arendt

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A poesia, cujo material é a linguagem, é talvez a mais humana e a menos mundana das artes, aquela cujo produto final permanece mais próximo do pensamento que o inspirou. A durabilidade de um poema resulta da condensação, de modo que é como se a linguagem falada com extrema densidade fosse poética por si mesma.

Hannah Arendt

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