Começo a perceber porque é que o crítico que escreveu um artigo demolidor deste livro no Guardian não gostou do livro. Não gosta do título porque os 4 pensadores que são objecto de biografia no livro não são mágicos - não tiraram coelhos de cartolas, nem fizeram truques. Trabalharam muito com um espírito muito analítico para construir, cada um, a sua visão própria. Isso também não percebo mas ainda vou no 1º terço do livro, pode ser que no fim tenha uma ideia diferente.
O crítico também não gostou dos títulos dos capítulos ("Heidegger está ansioso para uma luta, Cassirer está fora de si, Benjamin dança com Goethe e Wittgenstein procura um ser humano ”, por exemplo, ou“ Benjamin chora, Heidegger gera, Cassirer se torna uma estrela e Wittgenstein uma criança ”) que lhe parecem uma vulgarização dos pensadores em questão e do seu trabalho. Aliás, ele começa por não gostar que o autor tenha cruzado as biografias deles e os tenha enraízado na sua época, como se isso diminuísse a força ou originalidade do seu pensamento. Nisso não estou de acordo.
Um filósofo é alguém com os pés no seu tempo, embora tenha o pensamento fora dele. Compreender o contexto em que trabalharam, o tipo de pessoa que eram, o que os movia, etc., ajuda a compreender o seu pensamento, nomeadamente quando falamos de filósofos que rejeitaram os sentidos em que os termos se diziam e lhes deram outros novos. Já é difícil, quando não vivemos na mesma época, compreendermos o sentido de certos termos - por exemplo, nós que vivemos neste tempo, quando lemos um livro ou um artigo onde se fala do politicamente correcto da esquerda ou dos antifas, sabemos imediatamente o sentido dos termos e o contexto que os envolve; no entanto, se alguém ler os mesmos artigos ou texto daqui a 100 ou 200 anos, se o mundo e os seus termos tiverem mudado muito, vai ter dificuldade em percebê-los, no sentido em que era (são) usados sem o devido contexto.
Se estivermos a falar de traduções, então, ainda é pior, pois os termos não são idênticos em línguas diferentes. A expressão 'luar de Agosto', tendo o mesmo significado em português e alemão -a língua destes pensadores-, quer dizer, em ambos os casos significa as noites de lua cheia no mês de Agosto, tem um sentido diferente dado o referencial de cada língua estar inscrito numa experiência diferente. Daí as traduções serem tão difíceis.
Ora, todos estes pensadores ou usaram termos velhos com um sentido novo ou termos inteiramente novos, neologismos. Por conseguinte, a contextualização do seu pensamento, ajuda-nos muito a delimitar o sentido em que usaram os conceitos e, portanto, o que queriam dizer.
Não me parece, além disso, que o sabermos pormenores das suas vidas, os degrade de alguma maneira e ajuda a esclarecer certas posições intelectuais.
Estou a gostar bastante do livro. Gosto da maneira como ele vai pondo em paralelo a vida e os interesses intelectuais deles: os tempos de convergência, por exemplo, na questão da linguagem e os de divergência, por exemplo, na questão da autenticidade versus liberdade.
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