September 26, 2020

António Damásio em entrevista

 



A política é medicina numa larga escala

O cientista ficou surpreendido? “Fiquei. Para quem observa e pensa, é importante perceber como esta situação vai mudar a forma como os seres humanos enfrentam este e outros problemas. O clima, a relação com os animais. Problemas que nos obrigam a mudar.”
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Há um artigo publicado o ano passado na ‘Lancet’, um inquérito a quase 200 países, em que se demonstra que a saúde nos países não-democráticos é muito pior. E não é só a predominância de doenças infecciosas. Também as doenças cardiovasculares, o cancro, aumentam em sistemas não-democráticos. Uma relação que nunca tinha sido estabelecida na saúde pública. E temos ainda as doenças do desespero, onde cabem o suicídio e as toxicodependências.”
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Nunca se falou tanto em resiliência mental, na capacidade de domar emoções negativas. Temos, tem a nossa mente, essa resiliência? Ou o colapso é uma ameaça? “A ameaça de colapso é evidente. A resiliência existe, mas precisa de ser motivada. É uma planta que precisa de boa luz, bom ar e boa água. E isto vem da educação. Se um adolescente passa o tempo em atividades estúpidas ou por exemplo passa horas nas redes sociais, o panorama torna-se grave. 
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Talvez seja pessimismo, mas temos neste momento gente que possa ao mesmo tempo produzir ciência e refletir filosoficamente? Uma reflexão mais alargada ao contexto humano, filosófico ou ontológico.
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Até ao momento em que aparecem os primeiros sistemas nervosos, há cerca de 500 milhões de anos, a possibilidade de ter uma emoção existe, mas a possibilidade de sentir não existe. Um vírus não pode sentir. É improvável que a nossa vida mental, a tua e a minha e a de todos, exista há mais de 100 mil anos. Existem prolegómenos. A mente humana é muito recente.”


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