August 19, 2020

O que se passou no lar de Reguengos é pior que tudo o que disseram

 

Os nossos governantes e dirigentes locais são, no geral, muito, muito maus. É gente que percebe de orientar jogos de petanca. Era preferível pagar-lhes para ficarem em casa sem fazer nada, pois pelo menos não estragavam.

É muito fácil ficar sentado na cadeira e ameaçar os médicos para irem trabalhar com doentes infectados e sem protecção, oferecendo pijamas em vez de equipamento de protecção. 


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O HESE reativa uma enfermaria para doentes com covid-19 para "dar resposta" ao "aumento de pressão" no internamento provocado pelo surto em Reguengos de Monsaraz. Entretanto, no pavilhão, o médico destacado pelo ACES não dispõe de fardamento à chegada. Em vez deste, é-lhe fornecido um pijama idêntico ao usado pelos doentes no internamento hospitalar.

"Muitos destes pijamas estavam rasgados/cortados, pois devido ao calor os voluntários cortaram as pernas/mangas dos mesmos." O médico faz a avaliação de cerca de 24, 25 doentes sintomáticos. A equipa de enfermagem avalia parâmetros vitais de todos os doentes e os registos são feitos pelo médico num ficheiro da Google Drive criado recentemente para esse efeito. Após a avaliação, é necessário transferir um doente para o hospital por agravamento do seu estado clínico: os bombeiros demoraram duas horas e meia a chegar.
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A equipa médica desloca-se aos quartos dos utentes em causa. Observam funcionários do lar em contacto com os doentes, utilizando apenas uma máscara cirúrgica, sendo certo que os doentes não utilizavam qualquer tipo de máscara. E descrevem que havia "quartos de quatro ou de cinco camas, numa parte do edifício antigo, degradado, com calor extremo, cheiro horrível, lixo no chão, vestígios de urina seca no pavimento".

Os doentes estão deitados em camas quase lado a lado, sem espaço para se movimentarem. "Vemos doentes acamados, desidratados, desnutridos, alguns com escaras com pensos repassados, alguns só usando uma fralda, completamente desorientados." Um dos médicos sentiu-se mal ao fim de realizar 15 testes, deslocando-se ao ginásio para remover o EPI: não encontrou zona delimitada para a retirada do mesmo em segurança.
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10 de julho, sexta-feira

O médico de MGF, juntamente com o médico das Forças Armadas e dois enfermeiros, organizam a medicação de todos os doentes. Os blisters vindos da farmácia encontram-se todos amontoados numa mesa, alguns abertos, com variados comprimidos fora dos blisters e caídos na mesa. Verificam ainda que em várias ocasiões houve medicação que não foi administrada a muitos doentes. Passam várias horas a separar tudo por quartos, a arrumar os blisters e a confirmar as medicações. Iniciam a construção de um Cardex.

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As conclusões da ordem foram divulgadas no dia 8 de agosto e apontam falhas à fundação, incumprimento das regras e orientações emanadas pela Direção-Geral da Saúde (DGS) para o combate à covid-19, mas também às autoridades de saúde, como à ARS do Alentejo. Filipa Lança considera mesmo que "há responsabilidade da direção técnica da instituição, mas também das autoridades de saúde locais e centrais, pois não basta à DGS implementar normas e orientações. Alguém tem de fiscalizar".

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"Acredito que tivessem tentado fazer o melhor que podiam, mas quando perceberam que não tinham recursos humanos para dar resposta aos utentes e que não tinham sequer espaço para manter a distância devida entre camas, deviam ter tomado medidas." Isto mesmo consta do relatório que a Ordem dos Médicos entregou ao Ministério Público.

(quero ver se daqui a uns meses estão a dizer isto, mais coisa menos coisa, da situação nas escolas imputando a responsabilidade aos directores, sabendo nós que a tutela desinteressou-se de implementar medidas de segurança eficazes para não gastar dinheiro)

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