WHAT HAPPENS TO OUR BRAINS WHEN WE READ?
Giovanna CentenoO cérebro humano é a coisa mais estranha e fascinante deste mundo. O mero facto de a nossa espécie ter evoluído e sobrevivido até agora, contra a natureza e contra os outros, é absurdo. É ainda mais estranho quando percebemos que muitas coisas que afirmamos diferenciarem-nos das outras espécies animais são, em vários sentidos, não-naturais, como o ler.
Durante séculos a leitura e a escrita foram apontadas como características da nossa superioridade. Mas, até que ponto lemos bem? A resposta está nos traços evolutivos do nosso cérebro.
Segundo Maryanne Wolf (Proust and the Squid), o cérebro não foi feito para ler. Nós é que o forçámos durante a evolução da linguagem e da comunicação por sinais, mas esse traço não foi adquirido como um traço evolutivo, como a capacidade de falar e aprender a língua nativa. Em vez disso, temos que ensinar cada geração a conectar, de novo, as sinapses próprias e o cérebro tem que dar grandes voltas até ser capaz de compreender perfeitamente as palavras numa página. Os estudos de Wolf mostram, até, que aquilo que chamamos, 'dificuldades de leitura' são a norma; o facto de podermos ler e aprender a ler de acordo com a idade, essa é a real mutação.
Ler é um processo cognitivo não natural. Tem que ser ensinado activamente e de modo diferenciado da linguagem. A linguagem é um processo natural para a maior parte dos humanos, mas a leitura não vem naturalmente para a maioria das pessoas e é profundamente influenciada pela condição social e respectivas capacidades de leitura.
As crianças têm um cérebro muito mais flexível que os adultos e podem fazer ligações neuronais mais rapidamente, assim como usam uma parte mais significativa dos cérebros, quando lêem. Há várias barreiras de proficiência que vão além de descodificar símbolos. O pensamento crítico e a compreensão do significado por detrás de uma palavra ou texto são frequentemente negligenciados nas crianças que aprendem a ler, especialmente se não têm dificuldade em descodificar os caracteres alfabéticos e fonéticos.
Segundo Wolf, muitas crianças desenvolvem, nessa altura, dificuldades de leitura que não as deixam ser leitores proficientes mais tarde. Não conseguem compreender os sentidos ocultos da linguagem, as alegorias ou, até, submergirem-se completamente na trama de uma narrativa mas, como são vistas como capazes no acto de ler, pois que descodificam os signos, não são levadas a desenvolver o seu 'cérebro leitor' mais longe - ficam com uma barreira entre o acto físico e o acto psicológico da leitura.
Se não somos influenciados pelos primeiros cuidadores ou professores a ir mais além nas capacidades de leitura, enquanto crianças, podemos ficar bloqueados. Ler, como muitas coisas na vida, desnvolve-se através do hábito. Se o leitor é uma amante da leitura ou se considera um leitor voraz, o mais certo é ter tido alguém que o ensinou, enquanto novo, a apreciá-la - alguém que lhe ensinou os muitos mundos que se escondem atrás das palavras.
Em, Reader Come Home, Wolf escreve em forma de cartas para os futuros leitores, cientistas e escritores, à maneira de Italo Calvino em Seis Propostas para o Próximo Milénio. Explora os desafios que os futuros leitores poderão encontrar devido ao volume de informação disponível no mundo digital. Especula acerca do futuro evolutivo no que respeita ao pensamento crítico e imaginação, sendo a concentração (ou a falta dela), o primeiro passo.
Se muitos mais governos e sistemas escolares se focassem em combinar a base científica à leitura e o pensamento filosófico ao seu ensino, teríamos uma sociedade com uma compreensão muito melhor da curva de aprendizagem de cada indivíduo.
(excertos - tradução minha)
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