June 21, 2020

Determinismo-indeterminismo III



Indeterminacy in Brain and Behavior

Paul W. Glimcher
Annual Review of Psychology
(tradução minha)

(continuação)

Pascal havia desenvolvido essa lógica básica no século XVII, argumentando que o "valor esperado" de uma ação era igual ao produto de qualquer ganho ou perda possível resultado dessa ação e a probabilidade de ganho ou perda. Bernoulli havia expandido essa noção com a observação de que os seres humanos parecem, a um nível empírico, mais avessos ao risco do que a formulação de Pascal previa. A conclusão de Bernoulli foi que os humanos tomam decisões com base no produto de uma estimativa subjetiva de custo ou benefício e na probabilidade desse ganho ou perda, em vez de com base em uma medida objetiva de ganhos ou perdas. Devido à forma precisa desta hipótese, Bernoulli foi capaz de mostrar que essa noção dava conta da aversão, empiricamente observada, dos seres humanos ao risco. Assim, a ideia crítica que a teoria da utilidade avançou foi a de que se poderia computar os resultados desejados relativos de todas as ações possíveis para um selector e, excepto no caso, presumivelmente raro, em que duas ações tenham resultados desejados subjetivos idênticos, era possível prever as ações de um seletor com precisão determinada. a partir dessa base, Adam Smith (1776) argumentou que todos os actores económicos poderiam ser vistos como efetivamente trocando custos e benefícios para maximizar ganhos num mercado complexo. Presume-se que os preços dos produtos, por exemplo, sejam definidos pelas interações determinadas das curvas de oferta e procura que representem os resultados desejados ​​subjectivos agregados e os custos dos produtos para consumidores e produtores. Era, portanto, uma tese central da teoria econômica dos séculos XVIII e XIX que o processo racional pelo qual a conveniência era avaliada poderia ser modelado com precisão e que esses modelos faziam previsões determinísticas sobre o comportamento humano.

É importante ressaltar que a incorporação de probabilidades na teoria da utilidade esperada permitiu que a abordagem fizesse predições determinadas mesmo quando o ambiente no qual decisores humanos operavam era imprevisível. Supunha-se que os decisores consideravam o risco quando determinavam a conveniência de uma ação e a teoria previa explícita e convincentemente que nenhuma característica dessa incerteza ambiental seria propagada para o comportamento dos decisores. O único momento em que a teoria da utilidade previu indeterminação no comportamento foi quando duas ou mais ações mutuamente exclusivas tinham exatamente as mesmas vantagens subjectivas e a importância dessa situação em particular parecia limitada aos economistas clássicos. 

[entrámos na economia e a conversa ficou logo desinteressante...]

Na primeira metade do século XX, a Teoria dos Jogos desenvolvida por John VonNeumann, Oskar Morgenstern e John Nash desafiou diretamente essa abordagem determinada (Nash 1950a, b, 1951; VonNeumann & Morgenstern 1944). A Teoria dos Jogos representou um desvio da tradição clássica especificamente porque propunha que, quando um selecionador racional enfrenta um oponente inteligente e interessado, em vez de um ambiente económico passivo, podem facilmente surgir situações em que os resultados desejados subjectivos de duas ou mais ações são direcionados para uma igualdade precisa. A teoria passou a fazer previsões surpreendentes e fundamentalmente indeterminadas sobre como os seres humanos racionais se comportariam sob muitas condições que poderiam ser bem descritas pela Teoria dos Jogos. 

[ a conversa voltou a ser interessante...]

Para entender esse insight teórico, considere-se dois oponentes repetidamente jogando o jogo infantil de pedra-papel-tesoura, no qual o perdedor paga ao vencedor US 2$ numa rodada ganha com papel e US 1$ em uma rodada ganha com tesoura ou pedra. Se o comportamento do oponente for imprevisível, qualquer resposta pode vencer, em princípio. O papel venceu a pedra por US 2$, a tesoura venceu o papel por US 1$, e a pedra venceu a tesoura, novamente por US $ 1. A teoria da utilidade clássica pressupõe que os seres humanos escolham entre as ações combinando multiplicativamente o valor subjectivo e a probabilidade de cada resultado e, em seguida, selecionando a ação com o resultado que produz a maior utilidade esperada. Supondo ingenuamente que o oponente tem a mesma probabilidade de jogar pedra, papel ou tesoura, o maior valor de ganhar com papel deve levar todos os jogadores a escolherem papel deterministicamente em cada rodada. O que VonNeumann reconheceu foi que essa suposição sobre o comportamento do oponente simplesmente não podia estar correta. Um competidor que apenas escolhesse tesoura poderia derrotar com segurança qualquer jogador que realmente se comportasse de acordo com essa estratégia.

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