April 26, 2020

Entre parêntesis



Ontem o Presidente da República disse na AR que seria um absurdo e uma demagogia não evocar o 25 de Abril e que não é uma festa de políticos - em 1º lugar, notamos aquela estratégia de desviar a atenção do que se discute para outra questão para ver se as pessoas se esquecem do que está em causa e se dividem a discutir o novo assunto: o que estava em causa não era, nem nunca foi, não evocar o 25 de Abril, mas os políticos darem o exemplo do que impuseram aos outros que estão proibidos de reunir por conta do estado de emergência. Podiam ter evocado o 25 de Abril de mil e uma maneiras diferentes sem se terem juntado às dezenas, sem protecção, dando exemplo, e logo no dia que marca o início da democracia, de que se consideram acima da lei que eles mesmo impõem.

Desviar o assunto para uma suposta frente de pessoas que querem atacar a liberdade é que é demagogia e daquelas divisionistas: assistimos aos políticos dividirem o país com esses ataques a todos que com eles não concordam.
O Presidente, em pré-campanha eleitoral, é mestre em demagogia: beijinhos, abraços e discursos de dizer que está tudo bem e que os políticos estão a fazer o melhor e todos temos que confiar neles e que ele é que sabe, etc.
Ter mais polimento que outros Presidentes da República e políticos não lhe outorga nenhum poder de oráculo, mas ele considera-se -pelo modo como exerce o cargo- um dos sacerdotes da democracia.

Em segundo lugar, infelizmente, o 25 de Abril tem sido uma festa, acima de tudo para os políticos, suas famílias e amigos - e virem dizer que antes se estava pior, não consola: todos sabemos que antes se estava muito pior, mas não foi para ter uma classe de privilegiados a considerarem-se donos da democracia que se fez o 25 de Abril. Não foi para isto.

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