April 26, 2020

diário da quarentena 42º dia - pensar a vida depois da pandemia em 3 pontos




Naked Geometry




O que se pode pensar a partir desta pandemia:

1.  Precisamos de outro sistema de relação económica ou de um travão ao capitalismo corporativo selvagem que está em vigor - o problema maior deste capitalismo é que tem como prioridade o ganho monumental imediato e esse modo de funcionar é incompatível com soluções globais de longo prazo. Dado que este modo de sistematização de relações económicas não se vai esfumar no ar de repente, é preciso começar já a pensar em travões à sua progressão canibalista e pensar em outras maneiras de organização económica que seja compatível com soluções globais de longo prazo.

- Precisamos de um novo ramo do saber: um que nos mostre a nossa constante inter-conexão global - um saber que nos mostre como as acções de cada um afectam todos os outros. 

2.  Esta pandemia fez, em 4 ou 5 meses, aquilo que nem em 50 anos seríamos capazes de fazer em termos de recuperação climática, ambiental: todos os mapas de satélite mostram uma diminuição drástica da poluição, uma limpeza da atmosfera e dos mares; por todo o lado conservacionistas relatam um aumento das populações marítimas. Sítios como a China, os EUA ou a Índia onde o azul dos céus já não se via em muitas zonas há décadas, voltou a ver-se. 
É necessário fazer a ligação entre o nosso modo de vida de esgotamento de recursos, de deflorestação e a situação em que estamos agora. 

Este confinamento dá-nos uma pálida ideia do que seria um confinamento que resultasse de uma catástrofe ecológica à escala global - que resultasse de uma catástrofe nuclear, por exemplo; de uma acidez, humanamente insuportável, dos rios e oceanos; de pandemias regulares resultantes da convivência com animais selvagens a invadir o nosso habitat porque privados do seu, como temos visto nestes dias: veados, corças, lobos, coiotes, javalis, pumas, leopardos e outros a vaguear pelas cidades.

Como se vê por esta crise, as mudanças no modo de vida, para terem um efeito real no ambiente e nas condições de habitabilidade do planeta, têm que ser drásticas como o foram estas de ter metade da população do planeta fechados em casa. Não podem ser acordos que não passam do papel e não produzem mudanças.

3.  Precisamos de uma Carta de Direitos Económicos à maneira daquela que Roosevelt, o presidente americano, implementou em 1944, que incluía, entre o direito à educação, saúde, emprego e a um salário que desse para uma vida decente, defesas contra a competição injusta e os monopólios canibais. 

É preciso que se (re)desenhe uma carta filosófica, de princípios políticos-económicos que ponha travão nos indivíduos das finanças e da economia, nos gigantes que engolem economias ou, pelo menos, que desenhe defesas eficazes contra essas pessoas/organizações de modo a projectar uma vida possível, digna, para todos. 

É preciso reinventar a vida no planeta e talvez esta seja a última oportunidade. O planeta está a mostrar-nos como podemos melhorar a vida e travar a morte ou, fazendo nada, estas são as melhoras da morte, como se costuma dizer.

2 comments:

  1. Totalmente de acordo.
    Se eu não fosse agnóstica diria mesmo que isto é uma intervenção do divino...
    Só há aqui um pequeno problema: até no confinamento se vêem as assimetrias sociais. Uns estão em casas de campo com grandes jardins, piscinas e campos de ténis. Os outros atafulhados em pequenos apartamentos nas cidades.....

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  2. Mas o confinamento mostrou isso mesmo: gritantes desigualdades sociais. Muita gente vai passar a linha da pobreza com esta crise, porque estavam a viver no limiar da pobreza.

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