Naked Geometry
O que se pode pensar a partir desta pandemia:
1. Precisamos de outro sistema de relação económica ou de um travão ao capitalismo corporativo selvagem que está em vigor - o problema maior deste capitalismo é que tem como prioridade o ganho monumental imediato e esse modo de funcionar é incompatível com soluções globais de longo prazo. Dado que este modo de sistematização de relações económicas não se vai esfumar no ar de repente, é preciso começar já a pensar em travões à sua progressão canibalista e pensar em outras maneiras de organização económica que seja compatível com soluções globais de longo prazo.
- Precisamos de um novo ramo do saber: um que nos mostre a nossa constante inter-conexão global - um saber que nos mostre como as acções de cada um afectam todos os outros.
2. Esta pandemia fez, em 4 ou 5 meses, aquilo que nem em 50 anos seríamos capazes de fazer em termos de recuperação climática, ambiental: todos os mapas de satélite mostram uma diminuição drástica da poluição, uma limpeza da atmosfera e dos mares; por todo o lado conservacionistas relatam um aumento das populações marítimas. Sítios como a China, os EUA ou a Índia onde o azul dos céus já não se via em muitas zonas há décadas, voltou a ver-se.
É necessário fazer a ligação entre o nosso modo de vida de esgotamento de recursos, de deflorestação e a situação em que estamos agora.
Este confinamento dá-nos uma pálida ideia do que seria um confinamento que resultasse de uma catástrofe ecológica à escala global - que resultasse de uma catástrofe nuclear, por exemplo; de uma acidez, humanamente insuportável, dos rios e oceanos; de pandemias regulares resultantes da convivência com animais selvagens a invadir o nosso habitat porque privados do seu, como temos visto nestes dias: veados, corças, lobos, coiotes, javalis, pumas, leopardos e outros a vaguear pelas cidades.
Como se vê por esta crise, as mudanças no modo de vida, para terem um efeito real no ambiente e nas condições de habitabilidade do planeta, têm que ser drásticas como o foram estas de ter metade da população do planeta fechados em casa. Não podem ser acordos que não passam do papel e não produzem mudanças.
3. Precisamos de uma Carta de Direitos Económicos à maneira daquela que Roosevelt, o presidente americano, implementou em 1944, que incluía, entre o direito à educação, saúde, emprego e a um salário que desse para uma vida decente, defesas contra a competição injusta e os monopólios canibais.
É preciso que se (re)desenhe uma carta filosófica, de princípios políticos-económicos que ponha travão nos indivíduos das finanças e da economia, nos gigantes que engolem economias ou, pelo menos, que desenhe defesas eficazes contra essas pessoas/organizações de modo a projectar uma vida possível, digna, para todos.
É preciso reinventar a vida no planeta e talvez esta seja a última oportunidade. O planeta está a mostrar-nos como podemos melhorar a vida e travar a morte ou, fazendo nada, estas são as melhoras da morte, como se costuma dizer.