February 18, 2020
Marega, o racismo e o futebol
São duas coisas distintas, o racismo e o futebol, mas que se tocam. Não estou de acordo com os que falam das pessoas com comportamentos racistas como bárbaros fascistas. Parece-me que se simplificam as questões o que não ajuda a resolvê-las.
Num certo sentido, somos todos cúmplices de racismo, como fica muito claro neste curtíssimo vídeo onde Jane Elliot desafia as pessoas brancas da assistência a levantarem-se se acham que não se importavam de ser tratadas como os negros são tratados na nossa sociedade. Ninguém se levanta, o que a faz concluir que as pessoas estão conscientes de que é um tratamento mau que não querem para si, de modo que a questão que se põe é: porque toleram que essas pessoas sejam tratadas duma maneira que não quereriam para si e para os seus.
Se a assistência fosse de homens e lhes fizessem a mesma pergunta mas relativamente às mulheres, tenho a certeza que também nenhum se levantava... o que quer dizer que a sociedade é cúmplice dessas discriminações, neste caso, racistas. Até mesmo as pessoas que vão para os jornais chamar bárbaros fascistas aos outros, têm um grau de cumplicidade que se calhar não reconhecem.
No entanto, isso é diferente de ter comportamentos ostensiva e intencionalmente racistas.
Há racismo em Portugal, claro que há: fomos um país traficante de escravos e colonizador durante séculos e até há bem pouco tempo. Mas também fomos um país que defendeu o seu fim e acabou com a escravatura e, assim que conseguiu livrar-se da ditadura, saiu imediatamente (se bem que de modo irresponsável) dos países colonizados.
O que quero dizer é, sim somos um país com racismo, mas não somos um país racista, da mesma maneira que eu tenho um cancro mas não sou uma cancerosa. Sou uma pessoa que tem uma doença mas a doença não explica a totalidade de mim nem me define como pessoa. Do mesmo modo, temos racismo em Portugal mas o racismo não nos explica enquanto povo nem define a nossa totalidade identitária.
Os artigos inflamatórios a chamar fascistas e bárbaros não ajudam a perceber e combater o fenómeno, apenas põem mais oxigénio na fogueira e radicalizam as partes.
Outra coisa diferente é o futebol. O racismo, como o machismo e outros comportamentos maliciosos vêem-se mais no futebol porque o futebol português é um antro de crime e baixeza. A começar pelos dirigentes, autênticos mafiosos que pagam para bater, para matar, que controlam os árbitros com droga e prostituição... pior ainda, têm grande promiscuidade com a política e os políticos: eles são todos amigos do peito, fazem favores mútuos, passam de cargos dos clubes políticos para os da política que gerem do mesmo modo. O Rui Pinto não continua preso por acaso...
Quem é que hoje em dia leva os filhos a ver futebol, a não ser para lhes ensinar como bater, insultar... todos os jogos têm a assistência a chamar de filho da puta para cima a árbitros, adeptos do clube contrário, a ameaçar pancada e dá-la mesmo... e depois escandalizam-se que no meio dessa baixeza haja comportamentos de racismo? Mas não vêem todos os dias o que se passa em todos os jogos e os criminosos que dirigem os clubes? Ahh... pois não vêem porque são os primos e os amigalhaços dos políticos, parte deles até já andaram pelos clubes e são da mesma cepa.
Acho que o jogador fez muito bem em sair do campo e o que não percebo é, porque é que os jogadores, quando começam a ouvir essas baixezas e violências, não param o jogo e se vão embora? E não se jogava até os dirigentes e os políticos seus cúmplices porem ordem nesta in-decência que é o futebol português, um estímulo ao que de mais baixo há no comportamento humano.
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
No comments:
Post a Comment