February 28, 2020

Diário de bordo



Isto é agenda do meu telefone. Estão a ver as pintas cinzentas? Excepto a do dia 14 e a do dia 23, que não têm nada que ver com médicos, todas as outras pintas são marcações de consultas e/ou procedimentos/exames médicos. Há dias em que a pinta corresponde a duas marcações porque sempre que posso marco mais que uma coisa para o mesmo dia para não faltar ao trabalho. A de hoje, mais daqui a bocado, estou aqui a pensar se hei-de desmarcá-la. Isso é outra coisa que agora faço quando me chateio e mando isto tudo para as urtigas. Este mês não é dos melhores, nem em quantidade, nem no tipo de coisas que tive que fazer, mas também não é dos piores. Já houve piores.



Do ponto de vista do doente, já tenho um doutoramento nisto de médicos, enfermeiros e hospitais. Já são tantos médicos, tantos exames, tantos hospitais que as pessoas já me ligam a pedir opinião. Outro dia, um médico de quem sou amiga há muitos anos, desde o ano em que deixei de fumar, já lá vão 16 anos, com quem falo muito, também me pediu opinião sobre médicos de uma especialidade que precisava.

De modo que qualquer dia começo aqui uma rubrica sobre médicos, enfermeiros e hospitais.
Por exemplo:
- categorias de médicos e como tratar com eles: o inseguro, o que acabou o internato antes de ontem mas é muito esforçado e quer acertar, o distraído, o cuidador, o que tem  brio no trabalho, o emotivo, o sempre extenuado, o que não distingue o rabo da orelha, o que sabe menos que nós da nossa doença mas acha que sabe, o difícil que amua por qualquer coisa que se lhe diga, o sempre bem disposto, o que nos conta a vida toda logo à primeira, o que percebe tudo o que temos à primeira mesmo sem dizermos quase nada, o cuidadoso, o muito preparado, o que está sempre a olhar para o telemóvel, o brutamontes, o que nos quer falar da sua própria doença, o que se acha o supra-sumo da batata-frita com um ego descomunal, o que quer ser nosso camarada e fala como se tivéssemos na caserna, o que chama os doentes aos berros, o que nos fala das doenças dos outros doentes que acabaram de sair, o que nem sequer olha para nós, o que tem nojo de doentes, o que acha que nos conhece muito bem desde o primeiro dia, o preconceituoso contra professores, o que chega sempre atrasado uma hora e meia, o que está mais interessado em falar de política que da nossa maleita, etc.

Depois há os enfermeiros: cuidados a ter com os enfermeiros, sobretudo os que trabalham com doenças graves; o que dizer aos enfermeiros, o que nunca dizer aos enfermeiros. Erros que se cometem com os enfermeiros; como preparar as veias de modo a serem à prova de enfermeiros que não sabem por onde elas correm. Ainda há os exames médicos: o que são, como são, o que nos fazem, como evitar incómodos maiores que o necessário, as precauções a ter em certos procedimentos, etc. TACs, PETs, EBUSes, ECG, EEG, Ressonâncias, Provas de Esforço, Ecografias, Biópsias, Endoscopias, etc.

E, por fim hospitais: atendimento, organização, condições, tempos de espera, eficiência, simpatia, serviços que funcionam bem/mal e porquê, etc.

Março já está assim e faltam marcações que vão ser marcadas em consultas já marcadas. De modo que já me considero uma especialista neste assunto de médicos, exames e hospitais, do ponto de vista do doente.


2 comments:

  1. Meu Deus! Essa agenda é um susto!

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  2. LOL, ontem não meti lá os pés, desmarquei o que tinha e fui antes sair e divertir-me um bocado.

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