Forma-se o olhar, não o olho

A educação forma o olhar e fornece, no melhor dos casos, uma paisagem para ele se estender, mas não forma o próprio olho. No entanto, os decisores legislam no pressuposto de que a educação forma o orgão em si mesmo. Daí tantos desastres legislativos de consequências negativas.
Olhe-se o Norte da Europa onde a educação é tão elogiada: a cair no racismo e intolerância por todo o lado. Em que é que a educação deles é melhor? Têm sociedades mais equilibradas na justiça social e distribuição de rendimentos. Pois, só que isso tem que ver com políticas de décadas de reforçar os serviços públicos através do incentivo ao pagamento de impostos para construir um certo tipo de sociedade que não caísse outra vez nos erros que levaram às guerras. Nós não passámos por essa experiência e por isso não tivemos esse desidério. Mas, lá está, deu-se uma paisagem para onde olhar -o tipo de sociedade que se projecta- e formou-se o olhar para esse ponto. No entanto, não se modificou o olho, como se vê pelo que por lá se passa. Por cá não há paisagem para onde olhar e querem que modifiquemos os olhos dos alunos.