November 14, 2019

Anda-se a confundir piedade com inocência




Parece-me que neste caso da rapariga que deitou o filho para o caixote do lixo se fazem muitas confusões.
Sim, é verdade que uma sociedade que deixa uma pessoa nesse estado de abandono em que a rapariga se viu, aos 22 anos a prostituir-se e sem casa, sem nada, tem de repensar-se. Pior ainda parece-me o abandono da criança a quem ninguém defende os direitos. Passam uma gravação da mãe a deitá-lo fora para que ele um dia mais tarde tenha acesso a esse acto lamentável e não lhe possa fugir? É que uma coisa é saber, outra é ver o acto. Depois ainda passam imagens do bebé naquele estado. A própria mãe também ficará presa a essa imagem de si mesma.
Agora, outra coisa diferente é, por sentirmos piedade da condição de uma rapariga tão jovem e já nessa vida de desespero, confundirmos isso com inocência. Aos 22 anos uma pessoa sabe que um bebé é um ser humano. Sabe que pode ir dá-lo à polícia, deixá-lo num hospital, numa igreja, sei lá, tem várias opções...  agora, deitá-lo para o lixo, não o contentor normal mas aquele que tem uma pequeníssima abertura de onde é difícil tirar qualquer coisa... parece-me que denota um cálculo não inocente.
Sim, temos pena da mulher mas não vamos agora dizer que o acto dela é irrelevante do ponto de vista ético, porque não é.


Miséria de Estado, este que prende a mulher que abandonámos

Se os pressupostos da prisão preventiva não estão preenchidos – e não estão – a prisão é ilegal e miséria, miséria de Estado, este que prende uma mulher que abandonámos.

1 comment:

  1. Temos pena mas essa mulher tem de ser responsabilizada! Tenho 20 ou 30 anos. Seja branca ou preta! Tenha casa ou não tenha! Um bebé não é um objecto descartável!

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