Trinta anos depois da queda do muro de Berlim, os desequilíbrios entre a Alemanha Ocidental e a ex-RDA continuam. Isto é muito interessante para se perceber os desequilíbrios entre o sul e o norte da Europa, uma vez que também aqui no âmbito da UE há transferência de fundos. Se trinta anos de reunificação com transferência de fundos e políticas de desenvolvimento não nivelaram os dois lados, como seria possível esperar que dentro da UE, onde as políticas são tanto de incentivo como de desincentivo e fundadas em desconhecimento, trinta anos de adesão anulassem os desnivelamentos?
Embora, não sei ao certo se é legítimo fazer este paralelismo... no entanto, é claro que as mudanças sociais são muito mais lentas do que parecem, quer dizer, mesmo nas revoluções que implicam mudanças sociais bruscas, quando as águas se aquietam, por assim dizer, os sedimentos do fundo que entretanto andaram agitados pela crista da onda, voltam a pousar e a exercer a sua influência.
E é interessante verificar que as diferenças culturais persistem e têm influência nesses desequilíbrios.
Seja no desemprego, na demografia ou nos rendimentos, a fronteira continua visível.
Em 2018, 57% dos cidadãos do Leste ainda se consideravam cidadãos de segunda categoria face aos outros do Ocidente.
Interessante, também, é ler estas palavras de Merkele ao Der Spiegel:
Merkel: How we see life in the GDR, of course, partly depends on where each of us East Germans are today. Fundamentally speaking, when it comes to looking back at the GDR, there is one thing that many West Germans have a hard time understanding: That even in a dictatorship, it was possible to lead a successful life.
Esta frase explica, parece-me, porque é que momentos decisivos da História apenas se cumprem à custa da coragem e sacrifício de heróis isolados e porque é que a maioria ficam como oportunidades perdidas. Em Portugal, a adesão à UE foi uma oportunidade perdida porque cada um e todos estavam focados na sua successful life individual e não se interessaram em lutar pela vida comum.
Nesta entrevista, Merkele explica que muitos alemães de leste, não tendo tido o sucesso que pensavam ter após a queda do muro, porque os desequilíbrios eram muitos e não foram ultrapassados, coisa que se percebe nestes mapas, romantizam a vida que tinham antes da reunificação e culpam os governos. Para todos os efeitos, uns e outros -ocidentais e de leste- tornaram-se personas diferentes durante as décadas do divórcio e depois não fizeram esforço em conhecer-se e reconciliar-se. Reunificaram-se sem reconciliação e os de leste, que estão no patamar de baixo, ressentem-se dos outros.
Acho que pode fazer-se esse paralelismo com a União de países europeus que se reunificaram, pouco tempo após a guerra, mas sem esforço de conhecimento e reconciliação. Daí as desconfianças da Inglaterra e o Brexit, daí os problemas dos países fronteiriços com a Alemanha, daí os ressentimentos dos países do sul contra os do Norte.
Nós portugueses estamos na UE como os alemães de leste na Alemanha reunificada: chegámos tarde, pobres, sem hábitos de viver em sociedades livres, analfabetos, isolados, cheios de sklills ultrapassados e à espera de ascender na qualidade de vida como que por milagre, só por nos juntarmos ao clube. Agora muitos romantizam a vida antes da liberdade.
lemonde.fr
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