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April 16, 2020

Problema - a apreciação estética tem que ter uma razão?



Fui dar com esta imagem e cativou-me logo à primeira e não estou bem a ver porquê. Gosto das cores esbatidas - um mundo que se esboroa em face do moderno, simbolizado no zepelim? Os homens estão todos de costas voltadas para nós - que quer isso dizer? Saúdam o zepelim. Saúdam o progresso, é isso? E não se vê um candeeiro, um cartaz de uma loja, nenhum artifício. As ruas despidas, reparamos na arquitectura. Qualquer sítio para cima de França (não vou pesquisar sobre o autor ou a obra, não quero). O chão está molhado - é o progresso que lava o passado? Ou estou só a complicar e é uma cena de quatro homens surpreendidos numa rua qualquer anónima de uma cidade qualquer, pela passagem do zepelim?
Gosto daquele verde ténue do edifício à direita e do ar um bocadinho austero do outro. Entre os homens, a mancha de água no chão desenha uma cruz. Terá sido propositado porque um pintor pensa em pormenor tudo o que põe naquele quadrado ou rectângulo. Ah, é isso, agora percebi. Se o pintor pensa em tudo com cuidado, cada elemento tem a sua razão de ser e enquanto não compreendemos o sentido de todas as partes da peça há uma luz que se nos escapa e não deixa a apreciação ser emocionalmente plena. Por outro lado, não perceber-lhe o sentido imediatamente faz-nos voltar muitas vezes o olhar para ela e descobrir-lhe novas dimensões que aumentam o prazer da apreciação.
De modo que sim, o sentido promove a apreciação e não pois a ausência imediata de sentido também promove a apreciação. A arte não é a Lógica e não tem que ser coerente, aliás, abriga muitas contradições, como a vida.



Carel Willink The Zeppelin 1933