Como ser prudentemente céptico e evitar o preconceito e a manipulação e desinformação alheias. Nem sempre é fácil, sobretudo nos dias que correm, com a manipulação digital, mas é possível minimizar o efeito da manipulação.
Logo nas primeiras aulas de Filosofia em que digo aos alunos a definição etimológica da Filosofia, 'uma busca de sabedoria', represento os passos desse processo numa pirâmide em que na base estão os dados, a seguir as informações, depois os conhecimentos e finalmente a sabedoria. Da correcção dos dados depende a qualidade de todo o processo.
Se os dados não são fidedignos, tudo o que se constrói sobre eles é inválido. Como saber se os dados são fidedignos? Confrontar, seja directamente com as evidências, seja com outras fontes credíveis, seja investigando a credibilidade dessa mesma fonte ou confrontando com os nossos conhecimentos anteriores sobre os temas. Não aceitá-los como dados credíveis apenas porque alguém os disse ou apresentou como tal.
Mesmo com dados fidedignos, as informações, que são a interpretação e ordenação significativa desses dados, pode ser incorrecta: por ignorância, por falta de amplitude no pensamento, falta de imaginação para pensar significados alternativos, por enviesamento ou por malícia. Mais uma vez, o modo de perceber uma interpretação dos dados incorrecta ou pobre, implica a investigação de outras perspectivas, de outras fontes, o confronto com conhecimentos credíveis anteriormente acumulados e a investigação das fontes. Nesta fase e na anterior, o espírito crítico, esse cepticismo prudente que faz de advogado do diabo, é fundamental. Mesmo quando acreditamos em certas informações, se não podemos confrontar as evidências ou outras fontes credíveis, é necessário estar alerta para esse facto de não termos tido acesso a evidências ou perspectivas opostas ou alternativas.
Seja como for, é um erro dizer-se que 'o conhecimento está à distância de um clique'. O que está a essa distância são as informações que são já uma interpretação dos dados, que nem sempre estão disponíveis ou que estão mas que são muito técnicas e estão para lá dos nossos conhecimentos, e que têm de ser filtradas, editadas e confrontadas antes de serem aceites como base para conhecimentos.
Os conhecimentos, que são a etapa seguinte, é um nível onde já se investigou e sabe as razões ou as causas, consoante o tema, as implicações e os padrões contidos nas informações correctamente interpretadas. Também aqui todo o processo de confrontar as razões e as causas é fundamental pois é destes conhecimentos que se extraem linhas de acção que impactam a vida das pessoas no presente e no futuro.
O nível da sabedoria, o último e mais estreito, demonstra um pensamento capaz de encontrar o significado universal que subjaz a estes conhecimentos, que os introduz no fio do grande Cronos, que é capaz de ver para dentro e para longe e é capaz de extrair formas e linhas de acção positivas a partir deles - mas que constantemente se põe a si mesmo em questão. É a interiorização e vivência deste processo de busca de sabedoria que é interminável. Implica interiorizar uma atitude crítica e uma auto-consciência como uma segunda pele.
Todas as fases do processo implicam a pessoa estar informada do anterior e do novo. Se não temos informações e conhecimentos para filtrar o que nos dizem, nem sequer nos apercebemos de que certos dados ou informações não podem estar certos e não sabemos ser prudentemente cépticos. Daí que haja muita gente que tem muita inteligência e sabedoria no seu campo de conhecimentos, mas quando tenta extravasar essa sabedoria para outros campos de conhecimento, mostra excesso de confiança em si mesmo, falta de espírito crítico e incapacidade de ser prudentemente céptico: têm falta de conhecimentos nesses outros campos.
Há técnicas para reconhecer falácias de raciocínio e argumentação que ajudam. Isso é no post a seguir.
