Os 3 convidados dizem que países que não respeitam os direitos LGTBIQ devem ser convidados a sair da UE e também que há um movimento anti-género que vem de Putin, o que é um disparate, pois os movimentos de radicais anti-woke estão espalhados por todo o lado e, quanto a mim, são uma resposta à desorientação extremista dos movimentos wokes.
Entretanto, que valores são esses da UE que os LGTBIQ representam, segundo estes convidados? Os direitos LGTBIQ a "sermos livres de sermos quem quisermos". Ora, a questão é que muitas dessas pessoas que reclamam o direito de 'serem quem lhes apetecer ser', reivindicam a liberdade de forçar a mudança da classificação biológica dos seres - é muito diferente aceitarmos que alguém se sinta atraído por homens ou mulheres ou ambos ou nenhum ou o que lhe apeteça e aceitarmos que devemos alterar o conhecimento científico sobre os caracteres do genótipo humano para agradar a essas pessoas.
Também reivindicam tirar os direitos a outros, nomeadamente às mulheres. Reivindicam que se aceite que uma mulher não é uma mulher, que é normal e desejável invadir os espaços das mulheres, substituirem as mulheres nos desportos, falarem em nome das mulheres, mandar calar as mulheres e pedir a criminalização das mulheres que não aceitem o retrocesso dos seus direitos humanos e civis para agradar à liberdade dos LGTBIQ.
Este radicalismo woke está na origem do seu reverso que é o radicalismo anti-woke. Há países onde já vão nos 40 géneros - a sigla LGBT já vai em LGTBIQ+, sendo que o '+' significa, tudo o que cada um quiser. Há quem reivindique ser um felino e querer ser tratado como um felino. Há pouco mais de um ano houve uma discussão em Inglaterra que chegou ao primeiro-ministro e às páginas de jornais devido a uma conversa de alunos de 8 anos sobre a possibilidade de serem vistos e tratados como gatos - uma ideia que foram buscar ao TikTok.
Vivemos numa sociedade. Imagine-se numa turma de alunos, cada um reivindicar ser de um género diferente dos outros e, por isso, reivindicar um educação ao serviço das suas idiossincrasias. Não só a educação seria uma deturpação, haveria um impedimento de ensinar certas ciências, como seria o fim da coesão social. A educação também tem um fim de coesão social. Tem de haver um equilíbrio entre o que nos une enquanto sociedade e as idiossincrasia individuais.
Nos dias que correm a objetividade científica foi substituída pela subjectividade dos sentimentos e os wokes defendem que, se uma pessoa sente que sabe a verdade sobre algo ou sobre si mesmo, devemos validá-la por uma questão de empatia e respeito pelos seus sentimentos, já que ela tem o direito de sentir-se como quer. Isto é o fim da ciência como a conhecemos e está na origem dos movimentos anti-vacinas, anti-medicina, etc. Como seria possível ensinar medicina se toda a gente reivindicasse ser ensinada consoante o seu género sentido? Há um sistema circulatório para mulheres-trans ou queers diferente do dos outros? O aparelho reprodutor das mulheres é diferente se forem não-binárias? As células de um trans são diferentes das minhas?
Se a regra é cada um ser excepcional e único, deixa de haver regra. Isso tem consequência catastróficas, algumas das quais já se vêem, na dissolução das sociedades que se tornam auto-fágicas e na recusa do conhecimento científico, substituído por superstição e magia.
Por exemplo, na próxima quinta-feira vou fazer uma cirurgia. É um procedimento relativamente novo, de maneira que fiz perguntas ao cirurgião. Ele explicou-me em que consiste ao certo o procedimento e mostrou-me que não é assim tão novo e que já há bastantes dados e feedback quanto aos resultados. Isto deixou-me descansada. Se ele me tivesse dito, 'bem, eu sinto que a cirurgia é boa e lhe vai fazer bem', eu fugia dali a sete pés. Eu confio em dados objectivos que são obtidos através de estudos padronizados que se vão corrigindo com novos dados e não em sentimentos subjectivos cuja validade se reduz à pessoa que os sente.
Quando fiz o tratamento de imunoterapia, para a doença oncológica, esse tratamento tinha acabado de ser aprovado em Portugal, há menos de um mês e fui das primeiras pessoas a beneficiar dele. Todos os resultados da minha terapia foram para uma base de dados para servirem de ajuda a outros no conhecimento da terapia e dos seus efeitos na doença. Depois disso, já entrei em dois estudos internacionais, como cobaia, digamos assim, sobre os efeitos dos tratamentos oncológicos em aspectos diferentes. Enquanto puder, sempre que me pedirem para fazer de cobaia, digo sim, justamente para contribuir para o melhor conhecimento da doença -mais objectivo e robusto- de maneira a ajudar outros com conhecimento objectivos, fundados no estudo objectivo de resultados e não na liberdade de sentir desde ou daquele, por muito que respeite a liberdade de cada um sentir o que quiser.