Na semana passada tive uma discussão com uma amiga sobre características antropológico-culturais de povos. A discussão começou porque ela advoga aquele dito comum segundo o qual os portugueses são um povo manso. Não partilho dessa visão e parece-me que quando começamos a escavar no assunto das características distintas dos povos não encontramos nenhum fundamento credível para diferenciar uns de outros -há tantas excepções quando se vai aos indivíduos particulares-, pese embora todos reconheçamos que os povos têm certas tendências. É uma questão muito complexa. Hoje peguei neste livro sobre diferenças e semelhanças culturais entre povos.
O livro tem duas partes: a 1ª é sobre temas e em cada tema aborda comparativamente a maneira como as diferentes culturas se comportam nesses temas.
A 2ª é sobre cada país em particular: fala de aspectos relevantes da cultura, tipifica comportamentos, nomeadamente no que respeita à organização social, comunicação e negociação bem como algumas idiossincrasias.
Como se percebe, o livro não tem que ler-se sequencialmente. Podem ler-se capítulos fora da ordem.
O livro foi publicado em 1996 mas teve duas edições posteriores, cada uma delas revista - esta que tenho é a 3ª edição, de 2006.
Fui ler o capítulo sobre Portugal para ver o que reconhecia e se me reconhecia.
Diz que os portugueses são excelentes negociadores porque mantêm um espírito aberto e são muito bons comunicadores. Não sei se isto é verdade.
Diz que os portugueses valorizam muito os títulos o que é verdade.
Diz que temos uma burocracia muito pesada e que a herdámos do modelo napoleónico - esta característica é uma verdade insofismável ao ponto de entupir a vida de uma pessoa, o negócio de outra e o futuro de uma terceira.
Diz que somos bons a falar várias línguas o que não é mentira.
A ler estas características, que na maioria são positivas, faz bem ao ego acreditar nelas, mas não sei se correspondem a traços do carácter dos portugueses, se é que isso existe.
Algumas sim: os portugueses acreditam que são mais espertos que os outros; muitas vezes dizem que compreendem um assunto mas o que acontece é que fazem tenção de o compreender mais tarde; que argumentam com rodeios e outros aspectos.
Quem quiser que leia e decida por si.
Vou ler o capítulo da Rússia. Tenho curiosidade em ver se o autor captou alguns aspectos dos russo que agora são evidentes, tendo em conta que o livro foi escrito antes da invasão da Crimeia e até antes do discurso de Putin em 2008.