A arte é emocional, em primeiro lugar. Causa um impacto emocional. Só depois olhamos com atenção para descobrir as razões. É claro que para a arte causar impacto é necessário, em primeiro lugar, que a pessoa tenha desenvolvido essa capacidade de ser afectada pela (a)presentação estética. E a capacidade de nos deixarmos afectar pela arte também é influenciada pela experiência de vida que produz fios invisíveis que entre nós e as obras, quer dizer, quanto mais vasta e diversificada a experiência de vida, mais identificamos as coisas presentes nas obras como coisas, também presentes, enquanto experiência, nas nossas vidas. Falo de impacto emocional profundo, aquele que implica uma pessoa abrir-se à obra e permitir que ela deixe uma impressão, o que é diferente da atitude do crítico que julga à distância, de um ponto de vista técnico. A reflexão também ajuda e, como em tudo na vida (ou quase tudo) o hábito, a experiência, de observar arte educa, treina o olhar.
Uma obra significante consegue apresentar uma realidade (aqui uma paisagem campestre) de uma maneira tal ou numa faceta particular que a destaca do contexto e a expõe valorativamente, de tal maneira que nos obriga a pensar, a sentir e a ver essa realidade de um modo novo ou a reconhecer em nós algo que existia mas não era claro, por exemplo.
Por exemplo, esta paisagem tem um forte impacto em mim. Causa-me tranquilidade e angústia ao mesmo tempo, dependendo do que observo. Gosto deste castanho de terra lavrada (até lhe sinto o cheiro), gosto desta linha verde que se une no ponto de fuga. São tranquilizantes. É um verde tranquilizante. No entanto, há qualquer coisa de dramático no carro de cor vermelho (sangue) juntamente com a ameaça de nuvens. Os postes eléctricos vigilantes, a observar-nos. A partir destes elementos e não dos outros, os tranquilizantes, é pintura é agora ameaçadora, intranquilizante. (um psicanalista teria a sua interpretação desta minha interpretação...)
Portanto, a perspectiva a partir da qual observamos a obra influência o impacto dela em nós e, também, o próprio valor polissémico da obra. Fazemos isso com frequência, na vida, quer dizer, escolher os pontos a partir dos quais nos julgamos e, dessa maneira, construímos uma narrativa. Há pessoas que constroem narrativas idealistas (não num sentido filosófico), outros narrativas dramáticas, líricas... poucos, parece-me são os que constroem narrativas realistas.
O que fascina é a capacidade da pintura mover a paisagem interior e, dessa maneira, o passo exterior.
"Wiltshire Landscape". Eric Ravilious. 1937.