E e a discriminação salarial das mulheres está a ganhar terreno em vez de diminuir. Em Portugal a diferença de remuneração entre homens e mulheres é de 30%.
Porém, em Portugal, os machos da CIP negam que haja discriminação e sugerem que a diferença tem que ver com os homens serem melhores. A confederação de “patrões”, dirigida por 38 homens e cinco mulheres, diz que a expressão, “discriminação salarial” entre homens e mulheres não é a qualificação “correcta”. Prefere “diferenciação salarial”.
Os Homens Estão De Volta
Pedro Ferreira Esteves
O diagnóstico é claro e está por todo lado, neste Dia Nacional da Igualdade Salarial. O Barómetro do Diferencial Remuneratório entre Homens e Mulheres dá conta de que o elevado desvio salarial entre homens e mulheres só em 30% dos casos é explicado por factores objectivos. O restante é inexplicável, o que “sugere a existência de desigualdades estruturais em função do género”.
Esses estudos estão feitos e são feitos com regularidade. E o diagnóstico tem sido sempre o mesmo. É revelador que a CIP precise de novos estudos para validar uma visão da realidade que só existe na cabeça dos homens. O que acaba por ser natural, dado que na direcção da CIP, liderada por Armindo Monteiro, estão 38 homens e apenas cinco mulheres, ao passo que no conselho geral estão 63 homens e apenas dez mulheres. Uma questão evidente de diferenciação e não de discriminação.
Esta visão dos “patrões” é, portanto, uma visão machista. E de uma desonestidade intelectual inaceitável, quando a CIP desvaloriza no seu raciocínio que as “diferenciações salariais” são sempre em vincado desfavor das mulheres e fá-lo de tal modo que ainda precise de mais estudos para o aceitar.
Esta posição da CIP podia ser um estertor infeliz de um mundo que se julgava já ultrapassado. Poder-se-ia atribuí-lo a um saudosismo de um tempo em que os homens só precisavam de vestir um fato e gravata para saberem que já estavam à frente assim que entrassem num escritório, numa reunião ou num gabinete. E fatos e gravatas é o que não falta nos órgãos sociais da confederação, que mais não são do que uma fotografia realista do que se passa nos centros de poder empresarial espalhados por todo o país, nas suas múltiplas dimensões.
A CIP é apenas a face mais institucional de um problema maior. O machismo e a defesa do domínio do homem na sociedade estão a ganhar eleições, estão a ganhar debates no espaço público e estão a recuperar poder. Os homens estão de volta, na cabeça deles. A primazia da masculinidade nas relações, nos espaços, nas organizações, a impunidade dos comportamentos tóxicos de homens com poder, a aceitação do trágico erro civilizacional promovido pela Igreja e os Estados, tudo isto esteve sob ataque durante alguns poucos anos, com o feminismo, a revolta das mulheres, a denúncia de abusos ou a acção social e política pela igualdade e justiça. Mas a reacção está aí. O mundo já está a mudar. E as mulheres e os homens que as apoiam vão ter de voltar a reunir forças e engenho. Sobretudo, forças. Porque estudos já os há.