O exame é muito acessível, mas tem as perguntas absurdas do costume em que pedem aos alunos para apresentar a sua opinião pessoal sobre um problema filosófico abordado nas aulas, extremamente complexo, como são todos os problemas filosóficos
Evidentemente que o aluno vai apresentar uma das perspectivas estudadas, o que está certo e correcto, mas não é a sua opinião filosófica pessoal e, dificilmente o seria. Que opinião pessoal, filosófica, tem o aluno, sobre os obstáculos à teoria expressivista da arte? Se aprendeu, sabe quais as perspectivas que actualmente existem sobre o assunto e sabe os principais argumentos de cada uma, mas isso não forma opiniões pessoais. Opiniões pessoais implicam conhecimentos, não introdutórios e superficiais, sobre os assuntos e reflexão. Quem tem opiniões pessoais sobre o tema são os autores que desenvolveram essas perspectivas que ele estudou. O aluno tem o conhecimento das opiniões dos outros. O que está certo e é isso que esperam que o aluno saiba. Então, para quê induzir em erro com este tipo de perguntas?
Também pedem a posição filosófica pessoal do aluno sobre o problema da possibilidade de verdade no conhecimento, um dos problemas filosóficos mais complexos da humanidade. O aluno pode estar mais inclinado a concordar com os pírricos ou com Descartes ou com Hume, mas isso não é a sua posições pessoal, é a posição deles.
Não sei quem é que, no IAVE, pensa que os alunos devem sair das aulas de Filosofia no secundário, com posições filosóficas pessoais formadas. Nem um adulto, nem os próprios que fazem os exames ou os que ensinam a Filosofia têm posições filosóficas pessoais. A maioria limita-se a repetir os argumentos das posições de filósofos. Porém, esperam que os alunos tenham posições filosóficas pessoais formadas.
E quando vamos ver os critérios de correção, evidentemente que os argumentos que requerem que os alunos apresentem, são os argumentos dos autores estudados, o que significa que esperam que os alunos apresentem, não posições pessoais, mas que apresentam a sua adesão aos argumentos de um dos autores.
Há uma questão sobre a construção polémica de uma barragem que pede, não uma posição pessoal sobre um problema filosófico, mas que decisão tomariam naquele caso concreto e porquê. Isso é interessante, porque, na prática é para ver se sabem aplicar num caso concreto, uma das teoria filosóficas que aprenderam. É muito diferente de pedir que tenham uma posição filosófica pessoal sobre o problema da moral ou da epistemologia ou outro do género.
Esses problemas são tão difíceis e complexos que só uns poucos filósofos têm posições pessoais originais sobre eles.
Em meu entender este tipo de perguntas revela uma intenção oposta ao espírito e atitude filosóficos que são o objectivo formativo da Filosofia no secundário: formar pessoas que tenham o hábito de questionar, de desconfiar das aparências, que saibam ir investigar os assuntos antes de aceitarem posições alheias como 'verdades' ou de adiantar logo posições e opiniões pessoais dogmáticas em questões complexas. Pessoas que valorizem o conhecimento, o auto-conhecimento e a dúvida prudente.