O que têm em comum Greta Thunberg e Donald Trump? Ambos conectam com as pessoas a um nível emocional. A capacidade de promover ideias políticas, boas ou más, está cada vez mais dependente de uma adesão emocional mais do que racional. Greta conseguiu o que o consenso científico não tinha conseguido: fazer do clima o principal tema político. O sucesso de Trump não depende dos factos, mas da identificação daqueles que o suportam com os sentimentos que transmite. A crescente radicalização política é filha desta política das emoções. O desafio para os políticos sérios? Conseguir a empatia emocional com os cidadãos sem dispensar (nem os dispensar) do uso da razão. O desafio para a sociedade? Preservar as condições que permitem a procura de um bem comum num contexto crescentemente polarizado.
Greta Thunberg e Donald Trump têm em comum despertarem uma adesão emocional e não racional? Todas as pessoas desencadeiam nos outros uma adesão emocional, positiva ou negativa. Por exemplo, António Costa, quando se candidatou contra PPC, transmitiu um sentimento de respeito pelo povo, que agora se percebe que era uma encenação eleitoral, com os seus discursos de contrariar a austeridade e devolver a dignidade ao povo. Foi por acreditarem nesse discurso que as pessoas aderiram positivamente ao seu discurso e votaram nele.
Entretanto, viram que era mentira e nestas eleições, apesar da oposição estar entretida a canibalizar-se e apesar do PS ter conseguido controlar quase todos os meios de comunicação para lhe serem favoráveis, não lhe deram maioria absoluta, o que mostra que vêem bem o que ele andou a fazer.
Aliás a maioria nem foi votar. E essa deve ser a questão a fazer-se. Porque é que as pessoas já nem votam ou votam em Trumps? Porque a vida política está dominada pelos partidos políticos que agem como famiglias e as pessoas sabem que não têm voz nem importância nas decisões políticas desde que os políticos deixaram de as representar (ontem discutiu-se na AR a hipótese de reforma do sistema eleitoral e dedicaram 3 minutos para cada partido se pronunciar, o que mostra bem a importância que dão à representação democrática do povo) e humilham os que as tentam representar - os partidos proibiram os novos partidos que só têm 1 deputado
de assistirem às reuniões da conferência de líderes, mesmo apenas como observadores. Estão excluídos do processo (não) democrático.
As pessoas votaram em Trump porque se vêem não representadas e ele lhes pareceu ser uma voz exterior e independente das
famiglias da política, fechadas à voz do povo. E, de facto, é.
Só que é um comerciante sensível à voz de oligarcas e nisso é igual aos políticos.
Da mesma maneira as pessoas seguem Greta Thunberg porque ela parece ter conseguido furar esse muro que os políticos, que na maioria deixaram de ser sérios, são apenas profissionais de cargos e de poder, gente muito ignorante que pensa que isto do clima é uma tontice, embora não o digam com medo de perder votos, mas mostram-nos nas suas políticas desastrosas. A questão é que a maioria dos políticos já não consegue empatia porque já conseguem enganar as pessoas, as demagogias já não passam. Nem procuram um bem comum, como alega o autor do artigo, todos vemos que só procuram o bem do partido que lhes assegura lugares de poder e, o contexto está polarizado e radicalizado pelos próprios políticos que transformaram tudo em esquerda e direta, populistas, não populistas, etc.
O Mundo está hoje muito melhor do que alguma vez na história: da expectativa de vida ao número de pobres, praticamente todos os indicadores revelam melhorias. Mas não é isso que muitos sentem. Só isso explica a multiplicação dos conflitos sociais a que assistimos este ano.
Poiares Maduro, Três lições políticas de 2019
O Mundo não está melhor equitativamente. Por exemplo, o índice de pobreza a diminuir deve-se, em grande parte, à China, bem como o repovoamento florestal, bem como o indíce de desenvolvimento. Também à Índia. Esses dois países são um terço do mundo e todas as suas mudanças têm grande peso nos indicadores mundiais.
Na Europa e nos EUA as desigualdades estão a crescer, a pobreza a aumentar. Por exemplo, nos EUA o índice de mortes de adolescentes e de grávidas está a aumentar assustadoramente. O índice de mortes à nascença aumentou imenso em Portugal.
É verdade que os pobres têm a sopa dos pobres e não morrem à fome como no Yemen mas as pessoas têm menos recursos, vidas mais exploradas e têm menos acesso aos serviços públicos. Todos os dias é notícia as
grávidas andarem de hospital em hospital porque ninguém as recebe: ou não há médicos ou não há camas. E isto num país que precisa de nascimentos como de pão para a boca.
Talvez, em de dizer que as pessoas votam neste e naquele por serem pouco racionais e estarem radicalizadas, fosse melhor perceber porque é que na Europa e nos EUA, as mesmas pessoas racionais que votavam nos partidos tradicionais tenham deixado pura e simplesmente de votar e muitas se tenham voltado para outras alternativas.
Se calhar chamar estúpidas e ignorantes às pessoas não é a melhor maneira de perceber o problema e muito menos recomendar que os políticos sejam mais demagogos do que já são para enganar as pessoas com empatia porque do que as pessoas precisam é de ver que estão a dar-lhes possibilidades de ter uma vida decente.
Uma pessoa pode não saber nada de corte e costura mas sabe ver se o fato lhe assenta bem e quem são os alfaiates e costureiras que deixam sempre tudo às três pancadas: tudo mal cortado e mal cosido. E isso não é ser emocional. Ser emocional é não ser capaz de pensar as causas do afastamento das pessoas dos partidos tradicionais e reagir chamando-lhes pouco racionais e radicais.