Hamburgo 1958.
Fui descobrir um concerto gravado em Hamburgo em 1958, muito bom - https://youtu.be/.
Aqui, a cantar o Don Carlo de Verdi, voz dela mete-se debaixo da pele e até as suas feições de esfinge grega antiga parecem ter sido esculpidas para a ópera.
A mítica representação de La Traviata, no São Carlos de Lisboa, em 27 de Março de 1958. Com Alfredo Kraus no papel de Alfredo, conduzida por Franco Ghione. Ópera completa gravada ao vivo.
Imagens tiradas da representação (não sei de quem são).
7 minutos de raras imagens filmadas da representação da Traviata em Lisboa / 1958
Não sei se existe o filme da ópera completa. Há quem diga que sim.
A voz de Callas não é angélica como um lago plácido de superfície espelhada, cristalina e etérea. A voz de Callas é viva e acidentada como montanhas rugosas de picos divinos que se despenham em abismos profundos cheios de vida diversa, de cor e de animalidade emotiva.
O princípio
Maria Callas canta aqui pela primeira vez a aria da Leonora, com 26 anos. A voz... a expressividade, o pathos, o alcance, a técnica, o poder vulcânico. Nesta aria Leonora chora e a voz de Callas chora. Quando ouvimos outras sopranos cantar esta aria depois de a ouvir, todas as outras parecem... insonsas.
O meio
Absolutamente emocionante. Algumas partes parecem ser fisicamente impossíveis, como o que se passa a partir do minuto 1.42 e, no entanto...
O fim
Maria Callas, em fim de carreira:
Na última vez que cantou uma ópera em palco - Tosca, em Londres na ROH, com Tito Gobbi no papel de Scarpia. O dueto entre Tosca e Scarpia entre o minuto 29 e o 38, que inclui o Vissi D'arte... Brutal! (Acto II):
(Este post é uma republicação de Outubro de 2021)
Categoria Vocal: Assoluta (Soprano Sfogato)
Os seus pontos fortes
Na minha mente, a maior voz de ópera jamais gravada. Um fenómeno de arte, preservado com um timbre icónico e inimitável, uma gama vocal estratosférica e o mais reverenciado sentido de musicalidade e técnica dentro da sua forma de arte.
Callas encarna o mais raro de todos os tipos vocais dentro da ópera que é afach* 'Assoluta' (mais conhecida como, Soprano Sfogato). Uma voz que pode transcender os limites de uma categoria vocal e explorar todas as dimensões do instrumento feminino, desde o soprano alto até ao mais profundo do contralto.
Um exemplo da capacidade flutuante da voz de Callas pode ser ouvido pela primeira vez como Elvira na ópera I Puritani de Bellini.
Nesta maravilhosa cabaletta de La Sonnambula de Bellini, podem ouvir-se linhas de coloratura maravilhosamente claras, subindo até ao staccato colocado sem esforço que soa como uma verdadeira soubrette. A voz é tão imensamente ágil, que se esquece que esta é a mesma mulher que respirou fogo como Medeia e Lady Macbeth. É também no Nabucco de Verdi, onde se pode ouvir a dramática contrapartida desta coloratura na cabaletta 'Salgo Gia';
O declínio mais notório da voz Callas ocorreu por volta de 1959, onde o seu registo superior começou a revelar uma pronunciada 'oscilação' ou um vibrato largo e solto. A oscilação era muitas vezes ouvida em notas Alto B5 e acima e tornava quase impossível cantar os grandes papéis de soprano na sua carreira posterior.
É de notar, contudo, que a oscilação ocorreu apenas nas partes extremas da voz de Callas e os registos de médio a baixo ficaram intactos até ao final da sua carreira. O pesado repertório que Callas empreendeu numa idade precoce teve inevitavelmente um impacto mais tarde na sua carreira, mas a sua arte e contribuição seminal para a ópera permanecem indeléveis.
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Aqui na ária da Violetta onde canta, Sempre libera degg´io folleggiare di gioia in gioia... a voz dela exuda liberdade. É toda ela floral e coloratura e atira-se a várias oitavas com uma facilidade e alegria inigualáveis. A voz dela é como um oceano, parece ter sempre lá reservas para mais uma onda. E o timbre tão diferente de todos os timbres, tão único. Em certas árias, fica-se emocionalmente tocados, logo às primeiras notas.
Pus o vídeo a começar em, Nel di della vittoria do Macbeth de Verdi que é a segunda ária que canta neste concerto em Hamburgo a 15 de Maio de 1959 - a segunda parte deste vídeo é de outro concerto.
Ela é extraordinária nesta ária.